Elegia para uma seleção imortal
Mário Magalhães
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Vão passar os anos, chegarão outras Copas, novas gerações serão bafejadas pelo feitiço do futebol.
Mas quem ama o futebol jamais esquecerá o talento e o encanto da seleção da Espanha campeã em 2010, no primeiro Mundial da África.
A seleção inspirada no colossal Barcelona de Guardiola, cujo DNA havia sido o carrossel de Cruyff.
A Espanha que, como um dia disse Pep sobre o seu Barça antológico, reviveu muitos dos brilhos do futebol brasileiro de outrora.
A Espanha do cultivo da posse de bola, como aqui nos ensinaram Telê Santana e Cláudio Coutinho.
Aquela equipe morreu, e está sendo velada no Maracanã, onde foi eliminada pelo Chile, com uma soberba vitória de 2 a 0.
Não é a primeira defensora do título a cair na primeira fase.
Porém, nunca foi tão triste. Foi bom, maravilhoso, enquanto durou.
O sonho não acabou porque não foi sonho: durante muitos anos foi realidade. Duas Euros recheadas por uma Copa!
Que histórias não teremos para contar todos os que vimos aquele timaço.
Em um paradoxo aparente, foi o futebol que triunfou neste 18 de junho de 2014.
Celebrado pelo Chile, com os jogadores se mexendo, tratando com carinho a pelota. Baixinhos que jogam com gosto.
Viva o Chile!
Olha aí, no estilo da esquadra chilena, uma das muitas heranças da Espanha que abandonou a babaquice franquista da Fúria para ser a Roja que mora nos corações de quem preza mais a paixão do esporte que escudo e bandeira.
A Espanha fenomenal chegou ao fim por fadiga de material. Muitos dos seus astros envelheceram, e Vicente Del Bosque, treinador magistral, apostou na sobrevida utópica de alguns.
Para não dizerem que eu esperei acontecer o que aconteceu para identificar os problemas, eis um post publicado aqui no blog em 15 de maio, apontando os limites de Xavi Hernández: ''Sem Thiago Alcântara, Espanha perde maior esperança de superar cansaço''.
Pois Xavi começou a Copa, até ser barrado hoje.
O esgotamento contaminava muitos outros craques e jogadores decisivos, como escrevi na anatomia da goleada de 5 a 1 sofrida para a Holanda na estreia: Espanha padece de piripaque físico, técnico, tático e moral.
Xavi e Xabi já haviam antecipado a saída da seleção depois da Copa.
Puyol pendurou as chuteiras antes.
Torres não pendurou, até veio, mas já estava irreconhecível.
Casillas, que pena, aparenta já ter dado o melhor.
Será que, aos 34 anos anos em 2018, Iniesta ainda batalhará nos campos russos?
E Ramos, que terá 32? Brilhante na Champions, esteve muito mal na Copa.
Ao menos num prognóstico os jogadores da Espanha tinham razão: o confronto com o Chile seria uma ''final''.
Contudo, quem começou em ritmo de decisão foram os chilenos.
Cantaram o hino até o fim, à capela, mimetizando os brasileiros.
Com um minuto e 17 segundos, já sufocavam, com duas grandes chances.
Bem que Del Bosque tentou melhorar, para superar algumas das maiores deficiências do vexame diante dos holandeses.
De saída, mudou a zaga, escalando Martínez no lugar de Piqué. Mais à frente, trocou Xavi por Pedro.
Na estreia, David Silva havia se posicionado na direita do ataque, onde hoje ficou Pedro, com Silva recuado no meio.
Muita coisa não mudou. Parecendo afetado pelas vaias xenófobas, Diego Costa não fez nem cosquinha nesta Copa. Muito barulho por nada.
Como tantas vezes no passado, os finalizadores vieram de trás. Aos 15 min, Alonso quase marcou.
Quatro minutos depois, o mesmo Xabi errou passe e concedeu contra-ataque para o veloz Chile, que cirurgicamente fez 1 a 0, com nosso conhecido Vargas.
Iniesta chamou o jogo, mas não teve boa companhia.
Ainda assim, Alonso chutou aos 22 min (para fora) e Diego aos 26 min (quase acertou).
Em falta dispensável de Alonso, Sánchez cobrou, e Casillas espalmou com infelicidade para o meio da área. Aránguiz, outro jogador íntimo dos brasileiros, ampliou para 2 a 0, aos 43 min.
No segundo tempo, Del Bosque sacou Alonso, amarelado, e colocou Koke.
Aos 3 min, com Diego, e aos 7 min, com Busquets, a Espanha teve chances não aproveitadas.
Quando acertou o gol, Bravo defendeu.
Aos poucos, foi se deprimindo, com o Chile investindo sem sucesso em contra-ataques.
Cazorla, meia de alta técnica, pisou sozinho na bola. Melhor regressar para casa.
Quatro anos mais tarde, a campeã Espanha morreu em campo.
Para o futebol, a seleção que viveu o apogeu em 2010 é imortal.
Nunca a esquecerei.