Ustra tem que explicar seu relato sobre quatro tiros no torturador Malhães
Mário Magalhães
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Sem querer ou querendo, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra se tornou personagem de um mistério dentro de outro mistério, a morte do tenente-coronel reformado Paulo Malhães.
Torturador, matador e ocultador de corpos confesso, Malhães apareceu morto em 25 de abril.
Desculpem os que pensam o contrário, mas inexiste mistério em Ustra ser o primeiro a noticiar que o velho camarada de Exército passou desta para a pior. Os velhos repressores da ditadura se mantêm associados. Logo, a informação teria corrido primeiro entre eles.
O mistério, este sim incômodo para Ustra, é outro: já que ele recebeu a novidade quentinha e detalhada, por que divulgou que Malhães foi assassinado com quatro tiros, se o falecido não foi baleado, a confiar nos dados até agora divulgados pela polícia?
Ao dar o “furo”, o site “A verdade sufocada”, vinculado a Ustra, enfatizou os quatro tiros. Contou que Malhães morreu na hora e que os invasores da casa do militar levaram todas as armas lá armazenadas.
Se “A verdade sufocada” tinha informações tão seguras sobre a invasão do sítio de Malhães, na Baixada Fluminense, sobre sua morte imediata e o roubo das armas, por que alardeou quatro tiros que não existiram?
Eram para ter existido? Em caso positivo, tornaram-se desnecessários devido à morte repentina de Malhães?
Não insinuo nada, apenas considero indispensável que Ustra seja chamado pela polícia para esclarecer qual a origem do post sobre os quatro tiros. A propósito, até hoje, 5 de maio, a informação sobre Malhães baleado continua no site que sufoca a verdade.
Ustra comandou o maior campo de concentração urbano da ditadura, o Destacamento de Operações de Informações do II Exército, em São Paulo. Enquanto esteve no DOI, de 1970 a 1974, mais de 50 oposicionistas foram mortos, a maioria sob tortura, e parcela expressiva teve o corpo ocultado.
Malhães militou no Centro de Informações do Exército (CIE). Entre outros feitos, o oficial do Exército Brasileiro matou brasileiros na tortura e, para que os cadáveres não fossem encontrados e identificados, cortou seus dedos, arrancou os dentes e extirpou as vísceras.
Em meados da década de 1970, Ustra foi deslocado para o CIE, mantendo a atividade repressiva.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro ainda não esclareceu as circunstâncias da morte de Paulo Malhães, semanas depois de seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade.