‘A redação invisível’, por Álvaro Pereira Júnior
Mário Magalhães
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Há pouco mais de uma década, o controverso jornalista Howell Raines caiu do comando do ''New York Times'', em decorrência das cascatas do repórter Jayson Blair publicadas no jornal.
Em sua coluna de sábado, na ''Folha'', Álvaro Pereira Júnior recapitulou o episódio:
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A redação invisível
Por Álvaro Pereira Júnior
Desenrosca a tampa, abre a garrafa, dá um microgole, põe a garrafa de volta, abre de novo, bebe mais um pouco, troca alguns papéis de lugar, senta-se na ponta da cadeira inclinado para a frente, mexe as pernas, soca a mesa quando quer enfatizar um ponto.
Não há dúvida: estamos diante de um homem elétrico. Fala com autoridade, é absurdamente articulado. Incluiu citações eruditas em meio à conversa mais informal —ao contar uma história que envolve o hospital Saint Vincent's, de Nova York, faz questão de mencionar que ali morreu Dylan Thomas, e cita as últimas palavras do poeta: ''Quinze uísques; acho que foi meu recorde''.
Está de calça cáqui e camisa azul-clara ''buttoned-down''. Não usa terno nem gravata. Os cabelos brancos ondulados estão mais raros e curtos do que quando ele era famoso; ganharam um tom amarelo, penteados para a frente ao estilo do Frank Sinatra dos últimos dias.
As imagens que descrevo são de um vídeo perdido nas franjas do YouTube (is.gd/5N8BUg), na chamada cauda longa da web —aquela dos nichos mais obscuros. Pouco mais de 370 visualizações, quase nada.
O homem é jornalista, um dos grandes. Tem 71 anos, aparenta menos. Seu nome é Howell Raines. Por 21 meses, exerceu o que talvez seja o cargo mais prestigioso do jornalismo mundial: editor-executivo do ''New York Times''.
Pouca gente se lembra de Raines. Eu me lembro e sou fã.