Blog do Mario Magalhaes

Na marcação, Pato e Ganso parecem jogador ‘café com leite’ de pelada

Mário Magalhães

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Deram mole, e Walter marcou dois no São Paulo – Foto Agência Photocamera

 

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Se culpar apenas o arranjo tático ou exclusivamente os erros individuais pelo fiasco desta quarta-feira no Maracanã, o São Paulo perderá a chance de promover uma reviravolta indispensável para não sofrer novas goleadas como a aplicada pelo Fluminense.

Começo pelo, ao menos na aparência, mais simples de observar. Dos cinco gols do time da casa, quatro tiveram a contribuição de falhas pontuais de jogadores do visitante.

Em dois, Rogério Ceni concedeu rebotes camaradas, que poderiam ter sido evitados, segurando a bola ou espalmando mais para o lado.

Noutro, Lucão anotou contra.

O mais impressionante foi a postura de Reinaldo no segundo gol de Walter: em vez de encarar o barrigudo, no momento do chute o lateral virou-se de costas. A atitude de auto-defesa na iminência de uma bolada é humana, assim agimos em peladas e os jovens chegam aos clubes de futebol. Mas deveriam treiná-los. Se tivesse encarado o atacante e caminhado em sua direção, Reinaldo diminuiria a chance da conclusão milimetrada, no canto, que rendeu mais um gol.

Tropeços individuais se resolvem com treino, concentração, determinação, sabedoria e sorte. Problemas táticos podem ser menos complexos.

Não tenho condições de me pronunciar sobre a campanha do tricolor paulista no Campeonato Brasileiro, porque só assisti na íntegra a duas de suas partidas, as mais recentes: a vitória de 2 a 0 sobre o Flamengo, e a derrota de 5 a 2 para o Fluminense, ambos os jogos no Rio.

Muricy propõe um futebol vistoso, com uma linha ofensiva que combina a elegância de Ganso, a velocidade de Oswaldo, o oportunismo de Luís Fabiano e o talento de Pato.

Quando o oponente deixa jogar, como os amigões do Flamengo, maravilha. O São Paulo poderia ter vencido por muito mais.

Se aparece uma equipe bem amarrada, competitiva e repleta de bons jogadores, complica.

Complica porque os quatro titulares mais ofensivos do time do Morumbi têm dificuldades para marcar. Ontem, os volantes Souza e Maicon penaram de solidão, com paupérrima ajuda.

Oswaldo ainda atrapalha um pouco os adversários, e Luís Fabiano é importante nos cruzamentos sobre a área são-paulina, pois cabeceia bem.

Mas Pato e Ganso não marcam, mal cercam quem deveriam marcar. Parecem jogador ''café com leite'' de partida de crianças, aqueles meninos que, por serem menores, não contam.

O massacre tricolor _o carioca_ no segundo tempo decorreu do fim do excessivo cuidado que o Flu se impusera antes. Como a marcação da equipe de Muricy era débil demais, a de Cristóvão encurralou-a, correndo poucos riscos.

O Fluminense cruzou bolas sobre a área sem que seus laterais e meias sofressem qualquer acosso. Seus meias chutaram de longe com um tempo enorme para dominar a bola, pensar, preparar o petardo e bater. Por melhores que sejam os defensores, o confronto se torna desigual.

Ainda mais que o Flu contava, já no papel, com mais gente no meio: Diguinho, Jean, Wagner e Conca. Além disso, o atacante Sóbis participa muito mais do jogo que os quatro avançados do São Paulo. O Fluminense atropelou na etapa derradeira porque aproveitou a supremacia territorial.

Para escalar três atacantes de ofício (Pato, Fabuloso e Oswaldo) mais um meia ofensivo como Ganso, Muricy precisa de uma participação que foge às características deles _reiterando, sobretudo Pato e Ganso.

Para jogar para a frente, não são necessários atacantes puro sangue _em 92 e 93, Telê (que saudade…) usou só um atacante de profissão, Muller. Os meias Raí e Palhinha jogavam muito no ataque (a posição básica de Raí no sistema era de atacante), mas se empenhavam na marcação.

Como sabe qualquer treinador aprendiz, um bom técnico adapta o sistema (disposição básica dos jogadores em campo) e a tática (organização para atacar e defender) aos jogadores do elenco, e não o contrário.

É estimulante ver que Muricy não quer deixar no banco nenhum dos quatro nomes mais ofensivos, como ontem.

No entanto, para que tal aposta venha a vingar diante de times fortes, os jogadores têm de mudar a postura, entendendo o trabalho de defender como coletivo, e não somente dos coitados que ficam atrás se matando de tanto esforço.

Imagino que Muricy esteja apanhando muito. Pois eu acho que ele hoje combate o bom combate, pelo futebol ofensivo e bonito. Mas, para disputar o título, precisa de uma reviravolta, que pode até nem passar por mudança de escalação, mas de comportamento.

Os problemas do São Paulo não apagam o fundamental de ontem, a sublime atuação coletiva do Flu, que nem teve Fred e Cavallieri.

O que será que o Renato Gaúcho, antecessor de Cristóvão, pensa ao ver o antigo bando sob seu comando transformado em time de verdade?

Como se sentem os jogadores do Flamengo, que no domingo permitiram reverencialmente que Ganso jogasse, ao saber que diante do Flu o antigo parceiro de Neymar mal viu a bola?