No Brasil e no exterior, Flamengo não pode mais aceitar xepa do futebol
Mário Magalhães
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Jogadores não são hortaliças, mercado do futebol não é feira, feirante não detém direitos sobre boleiros, nem seus fregueses são clubes.
Mas a metáfora é esta mesmo: se o Flamengo de fato pretende se reforçar, precisa dizer adeus à xepa.
Recomenda-se madrugar para buscar jogadores de qualidade, à altura do manto, e sepultar a política mesquinha e suicida de escolher entre as sobras.
A atual diretoria foi fruto de eleição que por sorte liquidou a lamentável era Patrícia Amorim _a cartola, não a nadadora. Nunca houve, porém, aceno eleitoral de manter elenco capaz de colher vexames como os atuais. Prometeram moralizar o caixa, muito bem, antes tarde do que nunca. Mas jamais falaram que os sacrifícios no futebol seriam tamanhos que adubariam humilhações.
O rubro-negro tem trazido restos do interior paulista _se fossem bons jogadores, alguém duvida que Corinthians, São Paulo, Palmeiras ou Santos se adiantariam? Ou reservas de agremiações menores. Tudo em nome da poupança.
A política tacanha que fere o esporte mais popular do clube combina-se com gestão precária e apostas fracassadas. Até a grama da Gávea e do Ninho do Urubu sabia que Carlos Eduardo, bichado, não era mais o jovem promissor do Grêmio, mas o trouxeram da Rússia. Ele embolsou milhões, marcou um mísero golzinho em quase 50 partidas e não deu pinta de que se constrangesse com o fiasco.
Típico chinelinho, pouco empenho e muita indolência, Carlos Eduardo não é culpado. Culpados por torrar dinheiro do clube são os dirigentes e executivos que o acolheram. Bem como os que trouxeram o decadente André Santos, lateral rechonchudo em cima de quem qualquer perna-de-pau se cria. Ou Elano, ex-ótimo volante ou meia que há muito já deu o que tinha que dar, a despeito de brilhos bissextos.
Ney Franco é um bom técnico. Não pode ser colocada em sua conta a derrota de ontem para o São Paulo no Maracanã. Ney até deu sorte, porque sem ela o Flamengo teria levado um chocolate, muito mais que os 2 a 0. Por causa da incrível capacidade de Luís Fabiano, Ganso e Pato de desperdiçar chances, a goleada só se insinuou.
Assim como ocorria com Jayme, cuja demissão teve requintes de maldade ofensivos à generosa tradição rubro-negra, Ney necessita de reforços para evitar danos maiores. Seja no Brasil ou no exterior, o clube tem de olhar para qualidade, e não esperar a xepa. Para começar, um lateral-esquerdo, um meia e um atacante.
Coragem também ajudaria o treinador. Para barrar quem até anteontem era jogador de seleção, André Santos. E um goleiro, Felipe, cuja negligência excede os limites toleráveis.
A opção por dois centroavantes contra o tricolor paulista não foi feliz, mas Ney Franco viu-se obrigado a experimentar, para dar um passo adiante _e justificar sua chegada, pois escalar os mesmos que o antecessor desmoralizaria sua contratação. Hernane, enquanto esteve em campo, e Alecsandro juntos não deram certo.
Apesar do elenco fraquinho, há alternativa para André Santos: Éverton, recuado na lateral esquerda.
Para o gol, Paulo Victor.
Para errar menos passes na saída de bola, Cáceres.
Nenhuma revolução, reconheço. Para isso, é preciso ousar nos reforços.