Blog do Mario Magalhaes

Em Buenos Aires, ‘el jugador del pueblo’

Mário Magalhães

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Tévez comemora gol pela Juventus – Foto Matteo Bazzi/EFE/EPA

 

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Abril de 2014, Buenos Aires, na doce vida de comparar ojos de bife e bifes de chorizo de restaurantes diversos, Malbecs de Mendoza e Pinot Noirs da Patagônia, doces de leite de procedências ao gosto do freguês, o encanto com a coleção permanente do Malba e o desencanto com a mostra, de fotografias insossas de Mario Testino, instalada naquele museu.

No táxi, contudo, nada variava na conversa com os motoristas, como bem observou uma jovem acompanhante minha. Nem no assunto que eu puxava, mais por cacoete de repórter do que por prazer, nem nas assertivas dos taxistas: todos vituperavam o treinador Alejandro Sabella por ter mantido Carlos Tévez longe da seleção argentina.

Não queriam saber das minhas ponderações sobre a eficiência do quarteto Agüero, Higuaín, Messi e Di Maria. Ou da evidência de que os jogadores não topam o encrenqueiro Tévez.

Os taxistas, todos, argumentavam com a estupenda fase de Carlitos na Juventus e sobretudo com a sua personalidade, a cara dos argentinos, pelo menos dos mais pobres. ''El jugador del pueblo'', bradou um motorista, empregando o título de um documentário sobre o antigo atacante corintiano.

Como todo mundo sabe, Tévez nasceu num bairro pobre e barra pesada da periferia de Buenos Aires, o Fuerte Apache. Comeu o pão que o diabo amassou e triunfou no futebol, sem dar as costas àqueles com quem conviveu na época de vacas magras.

Em contraste com o temperamento forte de Tévez, Messi é tímido e partiu para a Catalunha antes da adolescência. Os dois não se bicam, mas a rejeição a Tévez é generalizada na seleção, como informa (em castelhano) reportagem de Cristian Grosso (leia aqui).

Na escala social, eu chutaria que os taxistas com quem conversei formam na classe média-baixa ou média-média portenha. É impressionante, e traduz o caráter marcante dos argentinos, que prefiram um jogador inferior, mas identificado com seu povo, a craques incontestáveis, porém com outras trajetórias e perfis.

Não estavam, meus interlocutores, entusiasmados com a Copa (com a proximidade da estreia, talvez o sentimento mude). Mostravam-se bronqueados, pois para eles Tévez não é um pavio-curto que atrapalha times, e sim o artilheiro que orgulha seu povo _e não jogará o Mundial.