Do arquivo secreto do Dops: no rádio, Brizola alertou sobre golpe em 1964
Mário Magalhães
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Muitas semanas antes da deposição de seu correligionário e cunhado João Goulart, o deputado federal Leonel Brizola alertou para a possibilidade de um golpe de Estado no Brasil.
É o que mostra gravação feita pela polícia política carioca, que monitorava os pronunciamentos que o ex-governador do Rio Grande do Sul fazia todas as noites por meio de modesta cadeia radiofônica encabeçada pela Rádio Mayrink Veiga.
O áudio foi guardado no arquivo secreto do antigo Departamento de Ordem Política e Social da Guanabara, o Estado que então equivalia ao atual município do Rio. Hoje integra o acervo do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.
Tem meia hora de duração e não registra nem o início nem o encerramento de um discurso de Brizola ocorrido provavelmente em fevereiro de 1964.
O deputado do Partido Trabalhista Brasileiro falava a uma plateia em local não informado, e as emissoras transmitiam ao vivo. Ele tinha 42 anos.
Aos 39, havia sido o principal líder da resistência contra a tentativa de golpe de agosto-setembro de 1961. O presidente Jânio Quadros renunciara, e golpistas capitaneados pelos comandantes das três Forças Armadas tentaram impedir a posse do vice, Jango. Governador do Rio Grande do Sul, Brizola foi decisivo para que Goulart assumisse, ainda que com menos poderes que o antecessor.
A semanas da derrubada de Jango, em 1964, Brizola clamava pela formação de comandos nacionalistas ou grupos de 11 pessoas. O nome não havia sido decidido. As organizações ficariam conhecidas como ''grupos dos 11'', o mesmo número de jogadores dos times de futebol. Deveriam se dedicar, entre outros objetivos, a impedir o golpe.
Brizola advertiu para a possibilidade de ''golpe'' e de ''ditadura'': ''Caminhamos para um desfecho desta crise''.
Prometeu: ''Vai ter luta''.
Não teve, pois Jango, temendo derramamento de sangue, preferiu não resistir em 1º de abril.
Devido ao parentesco, Brizola não poderia concorrer a presidente em 1965. Seus partidários protestavam: ''Cunhado não é parente, Brizola pra presidente!''.
Jango também não poderia participar do pleito, pois a reeleição era vetada.
A ditadura cancelou a eleição, e somente em 1989 os brasileiros votaram de novo para presidente.
Um aspecto curioso da manifestação de Brizola são as referências às mazelas nacionais. Mais à esquerda do que o cunhado, ele pregava que o governo realizasse de fato as reformas estruturais prometidas. Em março, Jango começaria a implementá-las com mais decisão.