Coronel afirma que desenterrou corpo do desaparecido Rubens Paiva em 1973
Mário Magalhães
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O coronel Paulo Malhães, oficial reformado do Exército e legendário membro do aparato repressivo da ditadura(1964-85), afirmou ter participado de operação para desenterrar a ossada do deputado federal cassado Rubens Paiva, desaparecido em 1971 depois de ter sido morto na tortura em dependências militares. Até hoje seu corpo não foi encontrado.
''Recebi a missão para resolver o problema, que não seria enterrar de novo'', disse o coronel à repórter Juliana Dal Piva. ''Procuramos até que se achou, levou algum tempo. Foi um sufoco para achar (o cadáver). Aí, seguiu o destino normal.''
O ''destino normal'' seria ocultar o corpo para sempre.
A missão teria ocorrido em 1973, na praia carioca do Recreio dos Bandeirantes. Malhães disse que sabia de quem eram os restos mortais: “Eu podia negar, dizer que não sabia, mas eu sabia quem era sim. Não sabia por que tinha morrido, nem quem matou. Mas sabia que ele era um deputado federal, que era correio de alguém”.
Malhães foi apontado por numerosos presos políticos como autor de violências. Integra listas de torturadores. Militou em órgãos como o Centro de Informações do Exército (CIE). Cuidava de alguns dos serviços mais sujos da ditadura.
Sua identificação, com declarações de relevância histórica, estão na edição de hoje do jornal ''O Dia'' (reportagem aqui). A matéria nomeia outros militares que teriam atuado com Malhães para desenterrar e desaparecer com o corpo. O coronel disse ignorar o destino dos restos mortais. E que o CIE resolveu dar ao caso uma ''solução final''.
De acordo com o oficial, a operação foi necessária porque alguns agentes do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do I Exército ameaçavam divulgar onde estava a ossada.
Para onde foi levado o corpo? “Pode ser que tenha ido para o mar. Pode ser que tenha ido para um rio.”
Malhães disse que a ordem para desenterrar Rubens Paiva veio do gabinete do ministro do Exército. À época, o ministro do Exército era o general Orlando Geisel, irmão do futuro ditador Ernesto Geisel. O presidente da República (igualmente ditador) era o general Emílio Garrastazu Médici.