Prefeitura do Rio deixa em ruínas palco do último discurso de Jango no país
Mário Magalhães
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O prédio do Automóvel Club, palco do último discurso de João Goulart (1918-1976) em solo brasileiro, foi abandonado pela Prefeitura do Rio, proprietária do imóvel.
Na noite de 30 de março de 1964, na antevéspera do golpe de Estado que o deporia, o presidente falou ali a mais de mil militares e policiais. No começo da tarde de 1º de abril, acossado, voou às pressas para Brasília. Da capital, rumou para o Rio Grande do Sul, de onde partiria para o Uruguai. Nunca mais regressou ao seu país, até a morte em 1976.
As ruínas do salão do Automóvel Club foram documentadas pelo fotógrafo Guito Moreno e estão descritas em exemplar reportagem de Catharina Wrede sobre a degradação do Passeio Público carioca (leia clicando aqui). À jornalista, o prefeito Eduardo Paes disse: ''Ainda não encontramos uma alternativa [para o prédio]''.
Em 1964, no ato pelos 40 anos da Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar, Jango apelou aos presentes: ''Respeitem a hierarquia legal'', sejam ''cada vez mais disciplinados''.
Atacou, relembrando a fracassada tentativa de golpe em seguida à renúncia do presidente Jânio Quadros: ''Na crise de 1961, os mesmos fariseus que hoje exibem o falso zelo pela Constituição queriam rasgá-la e enterrá-la sob a campa fria da ditadura fascista''.
Citou o bispo católico Dom Hélder Câmara: ''Os ricos da América Latina falam muito de reformas de base, mas chamam de comunistas aqueles que se decidem a levá-las à prática''.
Tudo isso no Automóvel Club, o local onde no finzinho dos anos 1950 havia sido rodada a chanchada ''O homem do Sputnik''.
E onde João Goulart discursou pela última vez no Brasil.