Peritos da Comissão da Verdade expõem mentiras da ditadura sobre mortes
Mário Magalhães
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Muitos assassinatos ocorridos durante a ditadura (1964-85) seriam esclarecidos se agentes públicos sobreviventes daquela era contassem o que fizeram e o que sabem. Salvo raríssimas exceções, põe raríssimas nisso, os repressores se mantêm calados.
A investigação científica sobre as circunstâncias de mortes de opositores enfrenta obstáculos desestimulantes, como a precariedade dos restos mortais (quando não houve sumiço dos corpos). Os laudos firmados por médicos-legistas e peritos criminais são importantes para reconstituir os eventos do passado. O problema, mais um, é que esses documentos costumam expressar fraude, com o intuito de ocultar homicídios de cidadãos sob custódia do Estado.
A análise pericial apresentada ontem em São Paulo por dois peritos da Comissão Nacional da Verdade é uma aula sobre como mentiras produzidas pela ditadura e servidores seus podem ser desmascaradas com a ajuda da moderna tecnologia.
Os peritos Mauro Yared e Pedro Cunha, da Comissão Nacional da Verdade (CNV), entregaram uma ''Análise pericial dos elementos materiais extraídos dos Documentos técnicos das mortes de Iuri Xavier Pereira e Alex de Paula Xavier Pereira''.
Os irmãos Xavier Pereira militavam na Ação Libertadora Nacional (ALN), maior organização armada de combate à ditadura. O trabalho conhecido ontem reforça as indicações de que no início dos anos 1970, em vez de terem sido mortos em tiroteio, ambos foram executados.
Para conhecer o estudo de Yared e Cunha, basta clicar aqui. (Alerta: há várias fotografias de guerrilheiros mortos.)
A análise foi divulgada numa sessão conjunta da CNV com a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, batizada com o nome do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido político. A sessão, que continua hoje, apura a morte de oito militantes da ALN, incluindo Iuri e Alex.
Um relato mais detalhado do evento de ontem foi feito pela assessoria de imprensa da CNV e pode ser lido aqui.