Por que derrubaram Jango (7)
Mário Magalhães
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O título mais indicado para este post seria ''Por que derrubaram Jango… tão facilmente''.
Sim, porque foi quase nula a resistência ao golpe de Estado que em 1º de abril de 1964 depôs o presidente constitucional João Goulart.
O próprio Jango se recusou a enfrentar os golpistas, não atendendo aos apelos do deputado federal Leonel Brizola, seu correligionário e cunhado, gaudério corajoso, que não queria se entregar pros homens.
Um dirigente comunista que se empenhou nas ruas para barrar a deposição, Carlos Marighella, esbravejaria _com ou sem razão_ por muito tempo:
''Esse Jango é frouxo''.
Depois de desencadeado o movimento antidemocrático de militares e civis golpistas, Goulart preferiu jogar a toalha, alegando o receio de que numa guerra civil jorrasse demasiado sangue de irmãos. Homem de entendimentos e de coração generoso, o herdeiro político de Getulio Vargas era mesmo avesso a confrontos. Outra interpretação sustenta que, empresário rico e proprietário de vastas extensões de terras, o presidente temia que do embate fratricida resultasse uma revolução popular em que perderia a fortuna.
Brizola insistiu, e Jango disse não, antes de se refugiar no interior do Rio Grande do Sul e em seguida partir para o exílio, de onde só regressaria morto.
Uma das maiores ilusões de Jango, ainda presidente, está contida na manchete da ''Última Hora'' carioca em 22 de fevereiro de 1964: ''Jair reafirma a confiança do Exército em seu chefe supremo: 'Não tememos fantasmas'''.
Pois deveriam temer. Jair Dantas Ribeiro, homem honrado, era o ministro da Guerra, título então do comandante do Exército. O que ele afirmou, em cerimônia com a presença de Jango, na Vila Militar, é que eventuais golpistas fardados não teriam chance de êxito.
Em seu discurso, o presidente declarou: ''O Exército Brasileiro tem uma tradição, da qual muito se orgulha, a de estar sempre identificado com as tradições mais sentidas do povo brasileiro''.
Disse mais: ''Daí eu estar certo, conforma salientou o ilustre ministro da Guerra, de que as reformas de base, de que tanto necessita o nosso desenvolvimento, hão de se processar pacificamente, dentro da lei e de acordo com os princípios cristãos que nos inspiram, para que conquistemos a total emancipação deste país''.
Logo o comando do Exército golpearia Jango, a Constituição e a democracia.
A ''culpa'' do golpe não é de Jango, ao contrário do que sentencia certa historiografia, mas dos golpistas.
O que não elimina os erros do presidente. Ele confiou num suposto ''dispositivo militar'' que lhe garantiria a fidelidade na cúpula das três Forças Armadas. Coordenava o dito dispositivo o chefe do Gabinete Militar de Jango, general Argemiro de Assis Brasil.
Entre um copo e outro, Assis Brasil bravateava:
''Nosso esquema é invencível''.
Por levar a sério o general fanfarrão, João Goulart e muitos dos seus aliados se surpreenderam quando os opositores romperam com a ordem constitucional e triunfaram sem sustos.
A ditadura vigoraria por 21 anos.
Há meio século, em 20 de fevereiro de 1964, faltavam 42 dias para o golpe.