Flamengo joga com 10, é garfado, luta, perde, mas enche torcida de orgulho
Mário Magalhães
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Há vitórias que são como certas comidas, telenovelas e pessoas: insossas, não fedem, nem cheiram.
Muitas derrotas incomodam mais pela submissão ao revés do que pelo placar.
E existem, poucas vezes, resultados adversos que devem encher de orgulho os derrotados. Foi o que ocorreu ontem com o Flamengo, ao perder por 2 a 1 para o León, no México.
A parada não se anunciava fácil. O adversário é o atual campeão mexicano. Embora vencedor da Copa do Brasil, o Flamengo safou-se por pouco de cair para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Vem se ressentindo da perda da dupla Elias e Luiz Antônio, que jogaram muita bola no fim da temporada. A estreia na Libertadores ainda calhou de ser fora, onde o rubro-negro jamais triunfou ao estrear na competição continental. E com o árbitro colombiano José Hernando Buitrago, escalado ontem, time brasileiro não costuma ganhar.
Pois o jogo começou com o Flamengo esbanjando personalidade, com três mudanças na turma sonolenta que levou três do Fluminense no sábado: Erazo deu lugar a Samir; Muralha, a Cáceres; e Paulinho, a Lucas Mugni.
Aos 5 min, Éverton cruzou da esquerda, quase na linha de fundo, e Hernane acertou uma cabeçada fortíssima, que pareceu ter raspado em mão do goleiro Yarbrough antes de se chocar contra o travessão.
Então, sobreveio a insensatez: aos 11 min, ainda no princípio da partida, Amaral chutou os bagos de Montes e foi justamente expulso. Era a segunda falta da equipe _e daí? Um erro gravíssimo do volante. Futebol é coletivo, mas falhas individuais podem destruir um time. No sábado, Erazo não havia sido o único jogador claudicante em campo, mas o zagueiro equatoriano vacilou nos três gols e contribuiu para o sucesso tricolor, que por sua vez esteve ótimo.
Em vez de se deprimir, o time treinado por Jayme de Almeida cobriu-se de brios e, com dez, foi à luta. Estava bem, até que aos 30 min o árbitro garfou os visitantes ao inventar, descaradamente, um pênalti de Hernane em Gonzalez. Não era pênalti nem no México, nem no Maracanã, nem no aterro aqui perto de casa, nem no raio que o parta. Boselli converteu, 1 a 0.
Cabisbaixo, ao ser roubado? Qual nada: o Flamengo buscou o empate. Aos 37 min, Samir teve chance, depois de cobrança de falta por Elano. Aos 43 min, também na bola parada de Elano, Cáceres cabeceou certeiro: 1 a 1, com a raça dominante no DNA do clube.
No fim do primeiro tempo, com um a menos, parecia que o Flamengo tinha um a mais. Dominou.
Será que o Flamengo jogava tão bem com dez por ter se acostumado em 2013 a ter Carlos Eduardo, hoje barrado, como titular?
O León não se beneficiava de 11 contra dez, e sim de 12: aos 14 min da segunda etapa, Buitrago apitou outro pênalti, numa ajudinha não tão bandeirosa como da primeira vez, mas igualmente camarada: André Santos chegou duro em Arizala, mas não fez o penal assinalado.
De novo brilhou Felipe, um gigante, melhor rubro-negro ao lado de Cáceres, volante que reapareceu em grande forma, numa atuação soberba. Pois Felipe não se deixou enganar pela cavadinha de Boselli. Aumentou a confiança do time.
Aos 17 min, numa falta pela esquerda, Elano cruzou, e a bola bateu na trave. Mais uma!
O gol da vitória saiu aos 23 min. Em um salseiro na área, após escanteio, Arizala sentenciou, 2 a 1.
O Flamengo voltou a ser atacado, levou bolas na trave, mas não se entregou. Cansado, na altitude de 1.800 metros, batalhou até o fim.
O León fazia cera diante da equipe com 10 e flagrantemente afanada.
Se o Flamengo repetir a atuação de ontem _sublinho: se repetir_ pode ir longe na Libertadores. O desempenho do time foi de encher de orgulho seus torcedores.