Blog do Mario Magalhaes

Trens – Secretário de Cabral é igual ao Fluminense: não tem jeito de cair

Mário Magalhães

blog - julio lopes ri

Detalhe da primeira página de ''O Globo''; Julio Lopes ri da desgraça alheia? A foto é de Gabriel de Paiva

 

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O jornal carioca ''Meia Hora'' pergunta marotamente, na ''Pegadinha do 'Meia''', na primeira página de hoje: ''O que Julio Lopes e o Fluminense têm em comum?''. De cabeça para baixo, imprime a resposta da charada: ''Eles não caem nunca''.

O ''Meia Hora'' não tinha a imagem que mais combinaria com o seu tirocínio editorial, a que está na capa de ''O Globo'' (reprodução acima) e já corria a internet ontem: em meio ao caos nos transportes da região metropolitana do Rio, desencadeado pelo descarrilamento de um trem, o secretário estadual de Transportes ria ou gargalhava.

O gesto ofensivo aos 600 mil passageiros prejudicados trai a essência de Julio Lopes, mas ainda está longe do seu pronunciamento mais covarde desde que assumiu a pasta em 2007, no começo do governo Sérgio Cabral. Em agosto de 2011, um acidente com um bonde de Santa Tereza provocou a morte de seis pessoas e o ferimento de ao menos 57.

Quem Julio Lopes culpou então? O motorneiro do bonde. Acontece que Nelson Correa da Silva não podia se defender, pois morrera na tragédia em que o veículo tombou numa curva. Quando o freio falhou, em vez de se safar, o condutor permaneceu no posto, gritando para os passageiros pularem para fora. Morreu como herói, conforme o testemunho de numerosas vítimas.

Um laudo comprovaria que o bonde tinha 23 defeitos e não poderia circular. Nove dias antes, o Estado havia deixado de pagar a empresa responsável pela manutenção, depois de o Tribunal de Contas questionar o contrato. Procurada à época, a secretaria comandada por Julio Lopes se recusou a informar qual era o problema.

Tão valente contra os mais fracos, Julio Lopes é no mínimo pusilânime com a SuperVia, concessionária que opera os trens metropolitanos. Sempre que o descaso da empresa com os usuários fica evidente, o secretário vai à luta para defender, como ele diz, a ''parceira''. A tal parceira teve o contrato estendido desde que passou a ser controlada pela Odebrecht, essa grande amiga do Estado.

O comportamento da SuperVia é ilustrado pelo episódio de abril de 2009, quando agentes a seu serviço açoitaram passageiros, em cena que, exibida na TV, assombrou o Brasil. Ontem, Julio Lopes disse que não houve caos e que solução só virá em 2016. Ele assumiu, reitero, em 2007.

Quem deveria cuidar de punir a SuperVia pelo descaso aplica multas miseráveis, e mesmo assim a maioria dos valores acaba não sendo paga. Mas o que esperar da agência reguladora recheada de partidários de Sérgio Cabral? Alguns membros, indagados sobre seu know-how na área dos transportes públicos, não titubearam em reconhecer que nada entendem.

E o que entende Julio Lopes? Como ele conta em seu site oficial, tem formação superior em administração de empresas e pós-graduação em administração escolar e marketing. É empresário do ramo educacional. Seus colégios costumam ter desempenho de sofrível a ridículo no Enem.

O secretário de Cabral integra o Partido Progressista (o nome é mais engraçado do que a pegadinha do ''Meia Hora''). Reivindica a condição de ''grande seguidor do mestre e exemplo na política brasileira''. Para quem não identificou o guru, trata-se do senador Francisco Dornelles.

Eleito deputado federal em 2002 e 2006, no ano seguinte Lopes foi trabalhar com Cabral. Reelegeu-se em 2010, mas com menos votos do que no pleito anterior.

Na época das mortes em Santa Tereza, houve protesto de centenas de moradores pedindo a cabeça de Julio Lopes. Como lembrou hoje o jornal, o secretário é feito o Fluminense, não tem jeito de cair.

Seu tapetão se chama Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro.