Blog do Mario Magalhaes

‘Por que os generais não imitam a Rede Globo’, por Luiz Cláudio Cunha

Mário Magalhães

Comandantes militares não batem palmas – Foto Alan Marques/Folhapress

 

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Com muita honra, compartilho aqui no blog ensaio de autoria do jornalista Luiz Cláudio Cunha, publicado na edição de janeiro da revista ''Brasileiros''. Trata-se de uma reflexão densa e arguta, pela pena de um dos mais talentosos e íntegros repórteres do país. São 11.958 palavras, ou mais de 73 mil caracteres (incluindo espaços), que não cansam. Pelo contrário, convidam ao passeio pela história e provocam as consciências, deixando um gosto de quero mais. Se eu fosse editor de livros, correria para imprimir este ensaio brilhante, a tempo do aniversário de meio século do golpe de Estado. Boa leitura.

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Por que os generais não imitam a Rede Globo

Por Luiz Cláudio Cunha

Passaram-se 49 anos, quase meio século, para o Brasil ver o inesperado, o impensável. Não uma, mas duas vezes. No curto intervalo de 75 dias, o País que hostiliza a memória teve de se voltar para o passado e resgatar personagens e verdades históricas, revolvendo fatos e circunstâncias que uniram durante muito tempo duas forças poderosas na implantação e essenciais na sustentação da ditadura: as Forças Armadas e as Organizações Globo.

Na manhã cinzenta de uma histórica quinta-feira, 14 de novembro de 2013, no hangar da Base Aérea de Brasília, dez cadetes do Exército, Marinha e Aeronáutica carregaram com visível esforço a pesada urna funerária que continha os restos mortais do presidente João Goulart (1919-1976), exumado de seu túmulo em São Borja (RS) para uma perícia internacional que poderá elucidar dúvidas sobre sua morte. O esquife foi recebido com reverência de chefe de Estado, guarda de honra, hino, salva de tiros de canhão e um forte clima de emoção dominava os 160 convidados da família Goulart e da presidenta Dilma Rousseff, que ali estava com parte de seu Ministério. Entre as autoridades, os três comandantes das Forças Armadas, que prestaram continências tardias ao homem que derrubaram do poder em 1964, marco de uma ruptura institucional que golpeou a democracia e martirizou a nação pela violência e pelo arbítrio.

Goulart, popularizado como Jango, resume uma acelerada história de sucesso que a força militar abortou pelo peso esmagador das armas. Aos 26 anos, Jango era apenas um jovem e rico fazendeiro na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. Aos 28, estreou na política como deputado estadual. Aos 31, tornou-se deputado federal. Com 34 anos, foi nomeado ministro do Trabalho por Getúlio Vargas, seu padrinho político. Aos 36, elegeu-se vice-presidente com mais votos do que o presidente eleito, Juscelino Kubitschek. Aos 41, reelegeu-se vice, pela chapa de oposição ao presidente eleito Jânio Quadros. Aos 42 anos, pela crise inesperada da renúncia do titular, viu-se ungido presidente da República, 16 anos mais jovem do que Lula ao chegar ao Planalto em 2003. Aos 45, foi deposto e exilado. Aos 57, morreu no exílio argentino e só então pode regressar à sua terra natal. Teria 94 anos, agora, se não tivesse retornado a Brasília reduzido aos restos de um punhado de ossos ainda atravessados na consciência nacional. A volta de Jango à sede do poder, do qual foi apeado militarmente há meio século, foi o primeiro fato inesperado que remexeu com a memória dos brasileiros. O segundo fato, ainda mais imprevisível, ocorreu dois meses e meio antes.

Na edição nobre de um domingo, 1o de setembro de 2013, o jornal O Globo, carro-chefe das Organizações Globo, abriu duas páginas para um histórico mea culpa, reconhecendo em editorial um refrão das ruas: “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. O editorialista cravou que, “à luz da História, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais que decorreram desse desacerto original”.

( Leia a íntegra clicando aqui, no link do ''Observatório da Imprensa'' )