Marina afunda, cinco meses depois do auge das jornadas de junho
Mário Magalhães
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Neste feriado de 20 de novembro, amanhã, faz cinco meses que estimados 300 mil manifestantes saíram às ruas no Rio, no auge das jornadas de junho _não testemunhei o protesto, pois levara as crianças para assistir aos 10 a 0 da Espanha sobre o Tahiti. Três dias antes, mais de 100 mil pessoas tinham tomado a Rio Branco, e eu me assombrara com a multidão que eu jamais vira tão caudalosa na avenida de vasta tradição política.
Naquela segunda-feira, 17 de junho, eu pensei, mas não escrevi, para não contaminar com especulações eleitorais a reportagem sobre o ato: esse mar de gente vai empurrar o barco de Marina Silva. A antiga senadora pregava a rejeição aos partidos tradicionais, agitando a bandeira da Rede. “Sem partido”, esgoelava-se a maré humana.
Quase meio ano mais tarde, meu erro de análise é evidente: a correnteza engolfou mesmo a esquadra de Marina e seus aliados, mas para trás. A Justiça barrou a criação do seu partido, ela aceitou um lugar secundário ao lado do timoneiro Eduardo Campos, e a intenção de votos em sua possível candidatura pelo PSB foi abatida pela contracorrente, como comprova pesquisa do Ibope divulgada ontem (leia aqui).
Em menos de um mês, Marina caiu de 21% para 16%, na corrida com Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). No confronto em que Aécio é substituído por José Serra, a filiada ao PSB despencou de 21% para 15%.
No cenário mais provável, com Dilma x Aécio x Eduardo, o candidato do PSB recuou de 10% para 7%. Trocando em miúdos, o correligionário de Marina perdeu 30% em menos de quatro semanas.
Se meses atrás Marina impediria o triunfo de Dilma no primeiro turno, hoje a presidente teria a reeleição assegurada. A pesquisa foi realizada antes da prisão dos condenados no processo do mensalão, assunto que a essa altura não parece influenciar o eleitorado.
Pode ser que Marina tenha regredido porque parte do eleitorado sabe que ela não deve ser candidata. Mas como explicar a solidez de José Serra, que oscilou para cima, enquanto Aécio ficou onde estava? Serra passou de 18% para 19% e de 16% para 17%, a depender do elenco de postulantes. É candidatíssimo.
É cedo para saber quem vai mesmo emparelhar na largada oficial para as eleições do ano que vem. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, não deveria ser descartado. E Marina, a despeito dos reveses, pode reencontrar os bons ventos.
Mas é impressionante que ela tenha perdido a oportunidade de se beneficiar da onda histórica de meados de junho. Trocando as metáforas marítimas pela terrestre: como diria o velho Leonel Brizola, o cavalo passou encilhado, e quem poderia não o montou.