A vida de cartola corrói o ídolo: Roberto já não é Dinamite
Mário Magalhães
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Nada me atemoriza tanto no futebol quanto os rumores de que o Zico será convidado para treinar o Flamengo ou, quem sabe, lançar-se à presidência do clube. Ídolo é ídolo. Eu não poderia vaiá-lo no estádio ou protestar na Gávea. Cá entre nós, há algumas décadas não faço mais essas coisas, embora, de coração, em muitas tardes e noites me associe a manifestações como os apupos que consagram o Carlos Eduardo a cada jogada desperdiçada.
Para os torcedores, passionais por natureza, foi um sofrimento a passagem do Galinho pelo governo Collor. Celebrávamos a cada manhã, quando os jornais confirmavam o que no fundo sabíamos: nenhuma notícia desabonava o gênio para sempre decente. Como lembrei outro dia em uma crônica que será editada em livro nos Estados Unidos, o maior craque de todos os tempos saiu de mãos limpas da bandalheira que tomou o país de assalto.
Existem experiências que contrariam esses receios, como a dos ex-jogadores do Bayern de Munique que se converteram em cartolas bem-sucedidos ou a de uma antiga prata da casa que se revelou ainda mais talentosa no banco, como o Guardiola no Barcelona.
O Vasco, contudo, sucumbe. Para o Dorival, agora demitido, ou o Autuori, que partiu antes, o revés de hoje pode se transformar em conquistas logo à frente, em outros times. Para o velho centroavante Roberto Dinamite, maior ídolo do épico cruz-maltino, promovido (ou rebaixado) a presidente vascaíno, o baque é maior. O atacante brilhante, um dos melhores a que assisti ao vivo, fracassou como executivo. Pior, suspeitas lhe tingiram a reputação, basta observar os negócios do seu genro em São Januário e outros episódios obscuros.
Que desgraça, o cabeceador notável, o cobrador de faltas mortal, o autor do gol mais lindo do Maracanã (contra o Botafogo) revelou-se feito do mesmo barro que Eurico Miranda.
Dos meus quatro irmãos, três são vascaínos _outro é gremista. Não gostaria de estar na pele deles, ao testemunhar o ídolo supremo conduzindo o grande clube, orgulho do Brasil, para o cadafalso.