Afasta de mim esse cale-se (2): Mais músicos aderem ao lobby
Mário Magalhães
( O blog agora está no Facebook e no Twitter )
A reportagem de Juliana Gragnani e Paulo Werneck está hoje na “Folha de S. Paulo” (aqui).
*
Mais músicos aderem ao lobby contra as biografias não autorizadas
O debate sobre publicação de biografias no país esquentou com a divulgação das gestões do grupo Procure Saber para consolidar, no Código Civil, o controle das histórias pelos próprios biografados.
A novidade, introduzida pela presidente do grupo, Paula Lavigne, é a tentativa de impor a obrigação de pagamento a biografados ou herdeiros. O pleito ganhou a adesão de artistas.
''Tudo o que se usa, paga'', diz o sambista Wilson das Neves. ''É até bom um dinheiro que entra na conta. Só estou esperando a minha vez.''
O compositor Pedro Luís defende a iniciativa: ''Todo mundo que é ingrediente do sucesso deve ser remunerado. Quem faz a revisão, a capa, não é remunerado? E o assunto do produto, não?''.
''É justa a reivindicação'', diz o roqueiro Nasi, que recebe 10% do preço de capa de sua biografia, ''A Ira de Nasi'' (Belas Letras), de Mauro Beting. ''Você está explorando a história e a imagem de alguém. É como se eu deixasse de receber por uma música minha gravada por outro.''
Biógrafos e editores, por sua vez, se mobilizam contra a iniciativa. ''Sinto-me insultado com a afirmação de que biógrafos só buscam abarrotar o bolso de dinheiro'', disse Mário Magalhães, que narrou a vida do guerrilheiro Carlos Marighella.
Fernando Morais (Olga Benário, Chatô, Paulo Coelho) também reagiu: ''É pré-colombiano.'' Morais, que escreve agora a história de Lula, perguntou à reportagem se o apoio de Chico Buarque está confirmado (sua assessoria confirmou).
Regina Echeverria, biógrafa de Cazuza, Elis, Gonzaguinha e Gonzagão e José Sarney também se mostrou perplexa: ''Não estou entendendo. Acho impossível. O Chico?''.
Entre os pontos de discórdia está a eventual obrigação de pedir autorização e pagar a personagens controversos. Lira Neto, biógrafo de Getúlio, questiona se, caso escreva sobre Filinto Muller, chefe da polícia política do Estado Novo, precisará pagar e pedir autorização à família.
Magalhães evoca um exemplo mais recente, ainda vivo: ''De acordo com a lei atual, o Cabo Anselmo poderia impedir a circulação de uma biografia independente. O Cabo Anselmo tem o direito de impor à história uma biografia chapa-branca? Afinal, a ditadura acabou ou não?''.
Para Dudu Braga, o ''Segundinho'', esse argumento é ''incoerente'': ''Na discussão das biografias não autorizadas colocam artistas e esportistas no mesmo saco que ditadores e criminosos?'', tuitou o filho de Roberto Carlos.
O Procure Saber rejeitou pedidos de entrevista. Um tuíte deletado do perfil de Caetano dizia: ''Querem fazer biografias sem autorização? Ok! Mas paguem ao biografado''. Segundo sua assessoria, Lavigne controla entrevistas de Caetano sobre o tema.