Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : setembro 2013

Da máquina de escrever ao computador, por Verissimo
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Mário Magalhães

Imagem pescada no blog “Coisas atualmente antigas”

 

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“A substituição da máquina de escrever pelo computador não afetou muito o que se escreve. Quer dizer, existe toda uma geração de escritores que nunca viram um tabulador (que, confesso, eu nunca soube bem para o que servia) e uma literatura pontocom que já tem até os seus mitos, mas mesmo num processador de texto de último tipo ainda é a mesma velha história, uma luta por amor e glória botando uma palavra depois da outra com um mínimo de coerência, como no tempo da pena de ganso. O novo vocabulário da comunicação entre micreiros, feito de abreviações esotéricas e ícones, pode ser um desafio para os não iniciados, mas o que se escreve com ele não mudou. Mudaram, isto sim, os entornos da literatura.”

Esse é o início de “A troca”, coluna de hoje do Luis Fernando Verissimo.

A íntegra pode ser lida clicando aqui.


Senta a Pua!
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Mário Magalhães

Anúncio publicado hoje no jornal “O Globo”

 

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Amanhã, a partir das 11h, na missa de 30º dia, a memória do brigadeiro Rui Moreira Lima será mais uma vez merecidamente reverenciada.

Com incríveis 94 missões de combate na Segunda Guerra, ele faleceu aos 94 anos.

A expressão herói foi banalizada. Rui era um herói de verdade, como escrevi outro dia.


FIM – O testamento de Salvador Allende (1908-1973)
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Mário Magalhães

 

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No Palácio de La Moneda sob bombardeio, Salvador Allende falou pela última vez ao povo chileno. Divergir ou concordar com ele é do jogo, e manifestar opinião não dá mais cana nem no Chile nem no Brasil. Mas parece difícil não se comover com o drama do homem que se despedia. Repito um post de mais cedo, que já deixou a primeira página do blog. Pouco tempo depois do discurso, Allende saiu da vida para entrar na história.

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Com o La Moneda bombardeado por caças e tanques, Salvador Allende pronunciou sua derradeira mensagem aos chilenos, pelo último meio que lhe restava, a Radio Magallanes _antenas de outras emissoras já haviam sido destruídas.

Foi como se Getulio Vargas, em vez de deixar uma carta testamento em 1954, a tivesse lido ao vivo, com o Palácio do Catete sob o ataque dos militares golpistas.

Antes do sacrifício, Allende começou, 40 anos atrás: “Compatriotas, esta será seguramente a última oportunidade em que eu poderei me dirigir a vocês”.

Referiu-se aos generais que o enganaram: “Minhas palavras não têm amargura, e sim decepção”.

Resistiu: “Diante desses fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: eu não vou renunciar. Colocado em uma encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo”.

“A história é nossa e a fazem os povos”, declarou.

Agradeceu a quem o levara ao governo: “Trabalhadores da minha pátria, quero lhes agradecer a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que só foi intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra de que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez”.

Nomeou os pais do golpe: “O capital estrangeiro, o imperialismo, unido à reação, criou o clima para que as Forças Armadas rompessem com sua tradição…”.

Sua voz não fraquejou: “Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos, minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à lealdade dos trabalhadores”.

Concluiu: “Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no seu destino. Outros homens superarão esse momento sombrio e amargo, onde a traição pretende se impor. Saibam vocês que, muito mais cedo do que tarde, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores! Estas são as minhas últimas palavras. Tenho certeza de que o meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, haverá uma lição moral que castigará a felonia, a covardia e a traição”.

Para ouvir a íntegra, com imagens daquele dia dramático, basta clicar na imagem acima.

No ano retrasado, visitei o Museu da Memória, em Santiago, onde  o discurso de Allende pode ser ouvido. Uma visitante chorava.


‘Pinochet fez muita coisa boa’, disse Felipão
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Mário Magalhães

Pinochet (esq.) e Havelange, durante a ditadura

 

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Em outubro de 1998, quando o ditador de pijama estava preso em Londres, o técnico do Palmeiras saiu em sua defesa. O treinador se chamava Luiz Felipe Scolari. Menos de quatro anos mais tarde, seria campeão mundial com a seleção brasileira, pela qual tentará o hexa em 2014. Felipão era peixe pequeno. Quem se relacionou com o ditador foi outro brasileiro, João Havelange, capo da Fifa. Eis a notícia distribuída pela Agência Folha sobre Scolari:

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O técnico Luiz Felipe Scolari, do Palmeiras, conhecido por seu jeito autoritário, elogiou o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, preso em Londres, na Inglaterra.

Em entrevista à “Rádio Jovem Pan”, de São Paulo, Scolari disse que “Pinochet fez muita coisa boa também”. “Ajeitou muitas coisas lá (no Chile). O pessoal estava meio desajeitado. Ele pode ter feito uma ou outra retaliaçãozinha aqui e ali, mas fez muito mais do que não fez”, afirmou o treinador.

Sobre os métodos do ex-ditador chileno, que resultaram em tortura e morte de milhares de pessoas, Scolari disse que “há determinados momentos que ou o pessoal se ajeita ou a anarquia toma conta”.

O treinador afirmou ontem que não tem mais “saco para dar entrevistas”. Acusando a imprensa de tentar derrubá-lo do cargo, Scolari ameaçou não deixar os jornalistas entrarem mais na Academia, onde o Palmeiras treina.

O técnico, que já agrediu um jornalista durante o Paulista-98, não concordou com a veiculação da notícia de que ele havia retirado o atacante Paulo Nunes do treino de ontem. “Vocês (jornalistas) estão querendo criar confusão. Mas vou continuar conquistando títulos. Com ou sem vocês.”

(Notícia pescada aqui)


Eis um programa de TV da campanha que derrotou Pinochet
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Mário Magalhães

 

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A história foi contada em 2012, no filme “No”, de Pablo Larraín.

Em 1988, enfraquecido, Pinochet cedera à convocação de um plebiscito previsto pela Constituição de 80.  O “sim” significava sua permanência, e o “não”, o cartão vermelho.

A despeito de o pleito ocorrer sob uma ditadura que sufocava a livre manifestação, o “não” recolheu 56% dos votos.

Clicando na imagem acima, é possível assistir a um dos comerciais de TV da campanha, em estilo “alto astral”. Ela catalisou a rejeição à ditadura e uniu a maioria dos movimentos populares que se reorganizavam _alguns boicotaram o plebiscito.

A eleição presidencial de 1989 consagrou o democrata-cristão Patricio Aylwin.

Pinochet deixou o Palácio de La Moneda em 1990.


Brasília, 1974: deputado discursa contra Pinochet, é preso e cassado
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Mário Magalhães

Chico Pinto, preso por criticar Pinochet

 

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O baiano Chico Pinto (1930-2008) não era de levar desaforo para casa. Prefeito eleito pelo voto popular em Feira de Santana, foi cassado depois do golpe de Estado de 1964. Em 74, quando era deputado federal pelo MDB, discursou contra Augusto Pinochet, por motivo de uma visita do ditador chileno ao Brasil. Acabou preso e cassado. No livro “A ditadura derrotada” (Companhia das Letras), o jornalista Elio Gaspari contou o caso. São da lavra dele os dois parágrafos abaixo.

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Por Elio Gaspari

Geisel não afrouxara os principais parafusos do regime. Com poucos dias de governo, valera-se de um discurso irrelevante do deputado Francisco Pinto, do MDB baiano, para dar sua primeira demonstração de força sobre o Congresso. Da tribuna, Chico Pinto chamara o general Pinochet de “assassino”, “mentiroso” e “fascista”. Reclamara da tranquilidade com que se recebera o ditador chileno: “Para que não lhe pareça, contudo, que no Brasil todos estão silenciosos e felizes com sua presença, falo pelos que não podem falar, clamo e protesto por muitos que gostariam de reclamar e gritar nas ruas contra a sua presença em nosso país”.

No primeiro ato politicamente relevante de seu governo, o presidente ordenara ao procurador-geral da República que processasse o deputado junto ao Supremo Tribunal Federal por ter insultado um chefe de Estado estrangeiro. Pura demonstração de poder, pois nenhum presidente se incomodara com as acusações feitas por seus aliados a ditadores de países socialistas com os quais o Brasil mantinha relações diplomáticas. A imprensa foi terminantemente proibida de tratar do assunto, e, em outubro, o Supremo condenou Chico Pinto a seis meses de prisão. Fez dele o primeiro parlamentar brasileiro a sair _por decisão do Supremo Tribunal Federal_ do Congresso para o cárcere, num batalhão da PM de Brasília.


Ditadura chilena matou e sumiu com cinco brasileiros
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Mário Magalhães

Jane Vanini desapareceu no Chile em 1974

 

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A moça bonita da foto acima nunca teve direito a um enterro digno. A mato-grossense Jane Vanini tinha 29 anos quando agentes da ditadura Pinochet a prenderam em 1974, na cidade de Concepción. Estava ferida. Jamais reapareceu.

Guerrilheira no Brasil e no Chile, Jane tiroteara por tanto tempo com os repressores que eles supuseram enfrentar um grupo numeroso de militantes. Ela deixou um bilhete para seu companheiro, que havia sido detido horas antes: “Perdoa-me, meu amor, foi uma última tentativa para te salvar”. Sob custódia do Estado, ele _o jornalista chileno José Carrasco Tapia_ seria assassinado em 1986.

Jane foi um dos cinco brasileiros mortos e sumidos na ditadura do Chile. Não regressaram para casa os exilados Luiz Carlos Almeida, Nelson de Souza Kohl, Túlio Roberto Cardoso Quintiliano e Wânio José de Matos.

Para que seus pais não sofressem ainda mais, as irmãs de Jane Vanini lhes contaram que ela morrera do coração.


Números contradizem a lenda: sob Pinochet, chilenos ficaram mais pobres
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Mário Magalhães

Pobreza, outra herança da ditadura Pinochet – Foto reprodução

 

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Sim, isso mesmo, a  vida da maioria dos chilenos não melhorou na ditadura. Como o professor Vladimir Safatle escreveu em sua coluna de ontem na “Folha”. Ei-la:

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Chile, 40 anos depois

Amanhã fará 40 anos que o Chile passou por um dos mais brutais golpes de Estado da história recente. País historicamente avesso a intervenções militares, o Chile era, até 11 de setembro de 1973, um dos mais inovadores laboratórios de transformação social do Ocidente.

Salvador Allende liderou um governo que procurava, ao mesmo tempo, superar índices vergonhosos de desigualdade econômica, enquanto aprofundava mecanismos de democracia direta e de respeito às estruturas da democracia parlamentar. Seu caminho era uma via inovadora entre as sociedades burocráticas do Leste Europeu e as dos países capitalistas.

Na verdade, tal caminho encarnava o medo mais profundo de países como os EUA em plena Guerra Fria. Tratava-se do medo de uma experiência capaz de aproximar práticas socialistas de redistribuição de riquezas com uma democracia pluripartidária.

Por isso, Salvador Allende foi vítima de um conjunto de ações de sabotagem econômica e de criação de clima de instabilidade política que mereceriam levar Henry Kissinger, então secretário de Estado norte-americano e hoje saudado como grande diplomata, ao banco dos réus do Tribunal Penal Internacional. Tais ações encontram-se fartamente registradas em documentos norte-americanos que passaram, nos últimos anos, ao domínio público.

Mesmo sendo vítima dessa política covarde, os votos aos partidos da base de Allende cresceram nas eleições legislativas de 1973, o que redundou em aumento da participação parlamentar. Estava claro que a única saída para derrubá-lo seria o golpe.

Alguns gostam de relativizar o período Pinochet, apelando para a falácia de que, apesar da ditadura, foi um momento de crescimento econômico e riqueza. Eles procuram esconder que, entre 1950 e 1971, o PIB chileno cresceu, em média, 2% ao ano. Já entre 1972 e 1983, ele recuou (sim, recuou) 1,1%. Foi apenas nos últimos cinco anos, com o comando econômico de Hernán Büchi, que o governo Pinochet conseguiu recuperar-se parcialmente desse abismo.

Mesmo assim, em 1970, a relação entre o PIB por habitante do Chile e o dos EUA era de 35,1%. Em 1992, esse mesmo índice era de 33,6%. O mínimo que se pode dizer é que os liberais latino-americanos têm uma concepção bastante peculiar do que devemos entender por “sucesso”.

Hoje, com os chilenos voltando a descobrir a força das ruas, que redundou em manifestações populares massivas por serviços públicos de qualidade, e prestes a despachar o impopular único governo direitista de sua história recente, pode-se dizer que a experiência de Allende não foi em vão.