Morre Diva Burnier, militante contra a ditadura e colega de Dilma na prisão
Mário Magalhães
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Morreu em São Paulo a economista Diva Burnier, veterana de combates à ditadura (1964-85), ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e companheira de prisão da hoje presidente Dilma Rousseff.
No começo do ano, Diva sofrera duas fraturas de crânio. Meses depois, um acidente doméstico provocou fratura na bacia. Ela faleceu na tarde da quarta-feira, aos 67 anos.
Presa política na virada da década de 1960 para a de 70, Diva integrou o coletivo da Torre das Donzelas, como foi batizado o espaço do Presídio Tiradentes que abrigava mulheres. Uma de suas colegas de cárcere foi a então guerrilheira Dilma Rousseff, que se aplicava em grupos de estudos, como contou uma reportagem da “Isto É”. “Ela é muito engenhosa na macroeconomia”, recordou Diva Burnier em 2010.
Também no ano da eleição presidencial passada, a “Época” reconstituiu o que era a Torre das Donzelas: “As presas contam que, logo que chegavam à Torre, eram rigorosamente revistadas, obrigadas a ficar de cócoras e apalpadas pelas carcereiras. Ao passar pelas celas das presas comuns, conhecidas como ‘corrós’ – o termo popular usado para descrever as ‘correcionais’, presas por crimes como ‘vadiagem’ ou ‘prostituição’ –, ouviam os gritos: ‘Carne fresca, carne fresca!’. ‘Fiquei aterrorizada quando cheguei ao Tiradentes’, diz Diva. ‘Era muita gente gritando.’ Para a maioria, porém, era um alívio chegar à Torre, porque o ‘mundão’, como chamavam a vida lá fora, começava a se conectar com o ‘mundinho’, a vida na prisão. Familiares e amigos poderiam localizá-las, ao contrário do que acontecia no Dops e na Oban. As presas podiam receber cartas – vistoriadas pela carceragem – e visitas, com alimentos, livros, discos, vitrolas, rádios de pilha ou televisões''.
Muitos anos depois, quando foi estudar na Unicamp, a futura presidente morou em uma casa de Diva Burnier.
Ontem à noite a jornalista Rose Nogueira, grande amiga de Diva, lembrou em mensagem aos amigos: “Diva foi muito valente no Doi-Codi e no quartel do Ibirapuera. Ficou depois em prisão preventiva no Presídio Tiradentes e respondeu a processo na Auditoria Militar. Na ALN, era ligada a Virgílio Gomes da Silva, o nosso Jonas, de quem foi também amiga”.
Virgílio foi assassinado na tortura em setembro de 1969, quando se tornou o primeiro “desaparecido político” na ditadura.
Diva teve três filhos.
Ela está sendo velada na Funeral Home (rua São Carlos do Pinhal, 376, Bela Vista, São Paulo).
O velório irá até as 15h. O corpo será cremado, como era vontade de Diva Burnier.