Blog do Mario Magalhaes

Tapas ou petiscos, por Duarte Calvão

Mário Magalhães

Rota de Tapas, evento em curso em Lisboa – Reprodução do blog Mesa Marcada

 

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Franceses, espanhóis e portugueses cultivam uma autoestima que, para o bem e o mal, reconhece ruídos na adoção de expressões estrangeiras.

Na profusão de “bares de tapas” que se proliferam aqui no Rio, eu jamais me importei com o nome. Sei que os bascos chamam suas tapas de pintxos, já me empanturrei com elas, mas os conterrâneos do Xabi Alonso não haveriam mesmo de dar mole aos castelhanos.

Só ao ler o velho amigo Duarte Calvão é que me dei conta de que “tapas” pode incomodar. O escriba português aponta o “espanholismo”.

Crítico gastronômico, Duarte escreve no saboroso blog Mesa Marcada, que mantém com colegas de Lisboa. O gajo passou a adolescência e o início da vida adulta no Rio. Estudamos na Escola de Comunicação da UFRJ. Reencontramo-nos em 1990, os dois radicados em Portugal, ele de volta à sua terra.

A opção entre o português “petisco” e o espanhol “tapas” só tangencia a crônica do Duarte sobre cervejas. O texto pode ser lido clicando aqui.

Em nome da amizade longeva, tomo a liberdade de publicá-lo abaixo, na íntegra, sem pedir licença…

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Petiscar por Lisboa com cerveja catalã

Por Duarte Calvão

Fala-se muito do “nacionalismo” português em relação aos nossos vinhos, que creio que existe em todos os países produtores, mas menos no das cervejas, Na verdade, português que é português, como eu sou, pode ter um certo interesse por marcas estrangeiras, mas a verdade é que não dispensa no quotidiano as suas Sagres ou Superbock, que, além de nossas, são bem boas. É por isso interessante ver o esforço que a catalã Estrella Damm tem feito nos últimos tempos, sobretudo desde que em 2012 começou a ser distribuída em Portugal pela Sumol + Compal, para conquistar o seu nicho de mercado.

Tenho sido convidado para o lançamento de uma iniciativa que a marca espanhola tem promovido em Lisboa desde o ano passado, a Rota das Tapas, e parece-me um bom exemplo de como, com imaginação, se pode encontrar um lugar, ainda que pequeno, entre os escombros da “batalha” Centralcer x Unicer. Esta rota tem agora, até dia 6 de Outubro, a segunda edição e, ao que dizem os seus promotores, a da estreia foi tão bem sucedida que o número de restaurantes/bares que a ela aderiram passou de 12 para os actuais 35. E se na primeira edição a rota incidia, grosso modo, pelas zonas do Bairro Alto e Príncipe Real, nesta segunda passou a abranger também Alfama.

A Rota das Tapas (desculpo o “espanholismo” pelo facto de se tratar de uma empresa de além fronteiras…) consiste em apresentar opções de petiscaria, algumas preparadas especialmente para a iniciativa, por três euros, que incluem, além do prato, 25 cl de Estrella Damm. Quem fizer o percurso (três “escalas”, pelo menos) e votar na “melhor tapa”, habilita-se ainda a uma viagem a Barcelona, com jantar no Tickets, do chefe Albert Adrià, irmão e cúmplice criativo de Ferran Adrià.

E por falar no chefe catalão, devo dizer que a minha relação com a Estrela Damm, fundada em 1876 (cuja antiga fábrica, no centro de Barcelona, vale a pena ser visitada), passa muito pela Inedit, uma cerveja que Ferran Adriá e o seu sócio Juli Soler, pelo vistos um grande especialista na matéria, desenvolveram para a cervejeira catalã há uns quatro ou cinco anos, se a memória não me falha, e que inclui na sua fórmula “pele” de laranja e alcaçuz. Só é vendida em garrafas de 75 cl e é especialmente adequada para acompanhar comida, com uma versatilidade que me encanta. E também me encanta o preço, sempre inferior a cinco euros e muitas vezes em promoção. No Corte Inglês de Lisboa, por exemplo, está agora a 3.99 euros, mas já lá comprei duas por menos de 10 euros, numa promoção que incluía dois óptimos copos de pé, os quais dão também muito bem para vinho branco.

Mas voltando à Estrela Damm “normal”, lager estilo pilsener, e à Rota das Tapas, acrescento que também a aprecio muito, principalmente pela espuma cremosa que, além de agradável, ajuda a manter a cerveja viva mais tempo, já que retarda a saída do gás. É uma boa variação das marcas nacionais. Quanto à Rota, é experimentar, porque há de tudo, desde locais mais conhecidos a outros menos. A apresentação à Comunicação Social, por exemplo, foi no Duetos da Sé, que não conhecia e me pareceu muito simpático com alguns petiscos bem feitos, ainda que não muito originais, como moelas, ovos com farinheira, morcela com maçã ou peixinhos da horta com maionese de coentros. Para saber quais os locais que participam, só indo a um, onde lhe é entregue um mapa da rota, ou no facebook.com/estrelladamm.