Blog do Mario Magalhaes

Entenda qual é o objetivo central da provocação de Bolsonaro

Mário Magalhães

Deputado federal Jair Bolsonaro – Foto Antônio Araújo/UOL

 

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Um dos grandes trunfos do deputado federal Jair Bolsonaro em suas cruzadas é a costumeira dificuldade que muitos dos seus antagonistas têm para identificar seus reais objetivos ou focos.

Nesta segunda-feira, o capitão da reserva (ou reformado; ignoro seu estatuto) do Exército Brasileiro empenhou-se aqui no Rio em atrapalhar uma visita civilizada às antigas instalações do DOI (Destacamento de Operações de Informações) do velho I Exército dos tempos da ditadura (1964-85).

Participaram da visita à unidade do Exército membros ou representantes da Comissão Nacional da Verdade, da Comissão da Verdade do Estado do Rio de Janeiro, do Senado e da Câmara dos Deputados. (Leia a cobertura do UOL aqui e aqui.)

Testemunhas afirmam que Bolsonaro agrediu fisicamente Randolfe Rodrigues _o deputado diz que “só empurrou” o senador. É possível que o gesto tenha consequências na Câmara, com pedido de cassação de mandato, mas não é disso que trato aqui. E sim do eixo da atuação mais recente do militar.

É verdade que ao provocar os visitantes Bolsonaro busca agradar sua base, na qual vicejam viúvas da ditadura, e reforçar as possibilidades de reeleição no ano que vem. O máximo que ele ambiciona é se manter na Câmara, pois sabe que propagandistas do antigo regime não se criam na disputa por cargos majoritários, em nenhum lugar do Brasil. Mas não é esse, vitaminar a candidatura vindoura, o seu propósito central hoje.

Nem o de reiterar sua agenda pela enésima vez. Todo mundo já sabe que ele é contra os gays e os ativistas que batalham para conhecer os crimes do Estado durante a ditadura. Não precisava fabricar mais um rififi para apresentar sua plataforma medieval.

Muito menos Bolsonaro pensou em estimular o debate democrático e tolerante, ao acusar os visitantes de recusar “o contraditório” no debate político. Na ditadura incensada pelo deputado, seus partidários resolviam “o contraditório” pendurando oposicionistas no pau-de-arara, executando-os a sangue frio e sumindo com os corpos. Estupravam jovens guerrilheiras, punham filhotes de jacarés para rastejar sobre seus corpos nus e as matavam empalando-as.

O problema fundamental para Bolsonaro e seus aliados hoje é a ameaça _para eles_ de a Comissão Nacional da Verdade sugerir julgamento e punição para autores de crimes imprescritíveis contra os direitos humanos, como a tortura e os desaparecimentos forçados.

Bolsonaro aplica-se em desenhar um cenário no qual haveria somente contendores radicais: ele e seus amigos contra os defensores de punição para os violadores de direitos humanos.

Assim, cresceriam as chances de a Comissão da Verdade não recomendar julgamento e condenação, procurando um falso meio-termo. Falta à comissão poder legal para punir. Mas seu relatório final terá influência sobre as ações do Ministério Público junto à Justiça e na possível reconsideração da Lei de Anistia pelo Supremo Tribunal Federal.

Se a Comissão Nacional da Verdade não sugerir punição, Bolsonaro terá atingido seu objetivo, com a eternização da impunidade.

Caso contrário, assistiremos à sua derrota.