Um gesto de estadista
Mário Magalhães
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O gesto da presidente Dilma Rousseff, ao cancelar (ou adiar; leia P.S.) a visita oficial ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, constitui ato tão eloquente quanto sereno, em defesa da soberania do Brasil.
Pela enésima vez, reitero: se o Brasil tivesse bisbilhotado a maior empresa norte-americana (como agentes dos EUA espionaram a Petrobras) e o próprio hóspede da Casa Branca (como procederam com Dilma), Obama cancelaria liminarmente uma viagem para estas bandas tropicais. Nem seu mais renitente opositor o condenaria.
A vasta arapongagem eletrônica da NSA e da CIA, agências dos EUA, equivalem politicamente a iniciativas de beligerância contra uma nação classificada como amiga pelo Departamento de Estado. Sem uma resposta além da retórica indignada, o Brasil propagaria a impressão de se submeter à condição subalterna à qual se habituou século após século.
Uma coisa é comparar um pibinho, nosso, a um pibão, deles. Outra, considerar que a legislação internacional só vigora para os mais fracos.
Não é rastejando em busca de uma vaga no Conselho de Segurança das Nações Unidas, por mais legítima que seja a reivindicação, que o Brasil será reconhecido como um dos grandes.
E sim exigindo reciprocidade ao tratamento diplomático, nos marcos da lei, que oferece.
P.S.: responsável e sóbria, a nota do Planalto (leia aqui) afirma que ''os dois presidentes decidiram adiar a visita de Estado''. Trata-se da linguagem punhos-de-renda típica da diplomacia. Como não há nova data estabelecida, na prática houve cancelamento. É óbvio que Obama ''concordou''. Diria o quê? Se Dilma anunciasse que iria, ele ''concordaria'' mais ainda.