Blog do Mario Magalhaes

‘Joia rara’: velho folhetim, raro prazer

Mário Magalhães

Cena de ''Joia rara'': Franz (Bruno Gagliasso) ferido no Himalaia; Foto Divulgação/TV Globo

 

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Acompanho pouco TV. Por isso, sugiro que prestem atenção quando sair uma crítica digna do nome sobre “Joia rara”, no blog do amigo Mauricio Stycer, pois aqui vão somente alguns pitacos.

Por causa das autoras, Duca Rachid e Thelma Guedes, eu queria dar uma olhada na novela das seis que estreou ontem na Globo. Tempos atrás me deparei, num hotel, com um capítulo de “Cordel encantado”, obra da dupla. Fascinado, comentei com um pessoal, que me esclareceu que eu era o último a saber da história tão cativante.

Também queria observar como um ator desencarna de um vilão, em “Avenida Brasil”, para viver outro personagem da mesma natureza. Pelo que vi, José de Abreu ensaia mais uma grande interpretação. Seu burguês não parece um malvado caricatural, mas com características comuns a todos nós: o pai que ama o filho e deseja o melhor para ele (o problema são seus valores e métodos, do contrário inexistiria conflito e trama).

Por fim, eu soubera que Domingos Montagner havia lido certo livro ao se preparar para o papel de um líder proletário. Sem pieguice, no roteiro ou na encenação, o ator dominou as sequências em que apareceu.

Meu primeiro susto foi com a superprodução no Himalaia, e as cenas tão bem filmadas, da escalada ao acidente. No mosteiro budista que acolheu um ferido, o nível se manteve. Curvo-me ao lugar-comum: parecia cinema, e não televisão. Por mais que as novelas costumem se esmerar no começo, a equipe da diretora Amora Mautner se excedeu.

Com todo o respeito a José de Abreu, Domingos Montagner e Bruno Gagliasso, muito bem como o mocinho, ninguém brilhou como Nelson Xavier, na pele e na careca de um mestre budista. As autoras se deram ao trabalho de explicar por que o religioso, no Nepal, sabe falar português. Não precisava: é o que vemos, sem espanto, nos filmes de Hollywood.

Iniciada nos anos 1930, a novela, pelo que li, logo pulará para a década seguinte. Eram tempos de conflagração e paixões no Brasil e no mundo. “Joia rara” já dá uma ideia sobre esse cenário, mas que ninguém espere um tratado sociológico sobre o passado.

Ainda bem. Telenovela é na essência folhetim. Portanto, seu propósito é entreter. O amor proibido entre a operária combativa e o filho do patrão já foi contado um milhão de vezes. Nem por isso deixa de emocionar.

Não sei se será assim na novela. Mas, pelo que deu para ver ontem, tem tudo para ser.

Como se não bastasse o bom gosto na fotografia, com o contraste entre a claridade no Himalaia e as cenas sombrias na fábrica e outros ambientes, o capítulo inaugural, classudo, fechou com Milton Nascimento cantando “Nascente”.

Se conseguir driblar o trabalho, logo mais estarei de novo em frente à TV.