Blog do Mario Magalhaes

Uma vela para Deus, outra para o diabo: Comissão da Verdade investiga como as igrejas ajudaram ou perseguiram militantes caçados pela ditadura

Mário Magalhães

Dom Hélder Câmara (1909-99), um cearense que encarou a ditadura – Foto reprodução

 

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Na semana que vem, terça e quarta-feiras, as Comissões da Verdade nacional e do Rio promoverão uma audiência conjunta sobre a atuação de diferentes denominações religiosas no período 1964-85. A comissão federal instalou um grupo de trabalho dedicado ao tema “Papel das igrejas durante a ditadura”. Haverá transmissão ao vivo pela internet.

Como é sabido, hierarcas de diversas igrejas atuaram intensamente tanto contra quanto a favor dos governos do ciclo inaugurado com o golpe de Estado que depôs João Goulart.

O comunicado da assessoria de comunicação da Comissão Nacional da Verdade está abaixo.

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Em uma iniciativa conjunta, a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro promovem audiência pública, nos dias 17 e 18 de setembro, no Auditório da CAARJ, no centro do Rio. O evento faz parte do Grupo de Trabalho “Papel das igrejas durante a ditadura” e terá transmissão ao vivo na internet pela CNV.

Haverá a coleta pública de vários depoimentos, com destaque para a participação de Dom Waldyr Calheiros, bispo emérito da diocese de Volta Redonda, líder religioso que deu abrigo e facilitou a fuga de diversos perseguidos políticos para outros países. Aos 90 anos, o testemunho de Dom Waldyr será exibido em vídeo pré-gravado pela CNV em parceria com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em virtude de suas condições de saúde.

Outro destaque será o depoimento do professor e bispo emérito da Igreja Metodista do Rio de Janeiro, Paulo Ayres Mattos, líder ecumênico, presidente da Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço. Mattos deu abrigo aos refugiados do Cone Sul que procuraram o Brasil nos anos 70 após os golpes militares no Chile, Uruguai e Argentina.

Também prestarão seus depoimentos as ex-presas políticas Jessie Jane e Letícia Contrim; e os ex-presos Marcos Arruda e Zwinglio Motta Dias, cujo irmão, Ivan Motta Dias, é um desaparecido político. Pastor presbiteriano, Zwinglio foi expulso do Seminário Presbiteriano de Campinas, em 1962, devido ao discurso teológico que adotava de salvação das almas, mas que passava pela ética e a preocupação social.

No dia 18 à tarde, haverá uma homenagem póstuma ao advogado de presos políticos Lysâneas Maciel, ex- deputado federal, que teve seu mandato cassado pela ditadura, e a Herbert de Souza, o Betinho, ex-líder da Juventude Universitária Católica e da Ação Popular durante a ditadura, que se tornou um líder pelos direitos humanos após seu retorno ao Brasil.

O grupo de trabalho papel das igrejas durante a ditadura examina a postura política de instituições religiosas e seus integrantes em relação ao regime ditatorial. Busca esclarecer a participação de instituições religiosas cristãs e/ou de suas lideranças clérigas ou leigas, tanto no apoio a movimentos de resistência à ditadura, quanto na contribuição à repressão, analisando os fatos e as circunstâncias de graves violações de direitos humanos correlatos ao seu tema.

Audiência Pública do GT Igrejas no Rio de Janeiro
Quando
: 17 e 18 de setembro
Horário: dia 17, das 9h30 às 17h e dia 18, das 9h00 às 17h
Onde: Auditório da CAARJ
Endereço: Av. Marechal Câmara 210, Castelo, Centro – Rio de Janeiro.
Transmissão ao vivo: http://www.twitcasting.tv/CNV_Brasil