FIM – O testamento de Salvador Allende (1908-1973)
Mário Magalhães
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No Palácio de La Moneda sob bombardeio, Salvador Allende falou pela última vez ao povo chileno. Divergir ou concordar com ele é do jogo, e manifestar opinião não dá mais cana nem no Chile nem no Brasil. Mas parece difícil não se comover com o drama do homem que se despedia. Repito um post de mais cedo, que já deixou a primeira página do blog. Pouco tempo depois do discurso, Allende saiu da vida para entrar na história.
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Com o La Moneda bombardeado por caças e tanques, Salvador Allende pronunciou sua derradeira mensagem aos chilenos, pelo último meio que lhe restava, a Radio Magallanes _antenas de outras emissoras já haviam sido destruídas.
Foi como se Getulio Vargas, em vez de deixar uma carta testamento em 1954, a tivesse lido ao vivo, com o Palácio do Catete sob o ataque dos militares golpistas.
Antes do sacrifício, Allende começou, 40 anos atrás: “Compatriotas, esta será seguramente a última oportunidade em que eu poderei me dirigir a vocês”.
Referiu-se aos generais que o enganaram: “Minhas palavras não têm amargura, e sim decepção”.
Resistiu: “Diante desses fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: eu não vou renunciar. Colocado em uma encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo”.
“A história é nossa e a fazem os povos”, declarou.
Agradeceu a quem o levara ao governo: “Trabalhadores da minha pátria, quero lhes agradecer a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que só foi intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra de que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez”.
Nomeou os pais do golpe: “O capital estrangeiro, o imperialismo, unido à reação, criou o clima para que as Forças Armadas rompessem com sua tradição…”.
Sua voz não fraquejou: “Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos, minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à lealdade dos trabalhadores”.
Concluiu: “Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no seu destino. Outros homens superarão esse momento sombrio e amargo, onde a traição pretende se impor. Saibam vocês que, muito mais cedo do que tarde, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores! Estas são as minhas últimas palavras. Tenho certeza de que o meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, haverá uma lição moral que castigará a felonia, a covardia e a traição”.
Para ouvir a íntegra, com imagens daquele dia dramático, basta clicar na imagem acima.
No ano retrasado, visitei o Museu da Memória, em Santiago, onde o discurso de Allende pode ser ouvido. Uma visitante chorava.