‘A vida é eterna em cinco minutos’, cantou Victor Jara. Mataram-no com 44 tiros
Mário Magalhães
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Faltavam poucos dias para Victor Jara, a voz que encarnou os anos Allende, completar 41 anos, quando ele foi trucidado pela ordem parida no 11 de setembro de 1973. Mataram-no com 44 tiros _isso mesmo, quatro dezenas mais quatro unidades.
Clássico do cancioneiro chileno, um dos maiores sucessos do compositor se chama “Te recuerdo Amanda”. Um dos versos diz que “a vida é eterna em cinco minutos” (ouve-se a canção clicando na imagem acima). Conta a história de amor de dois operários, a moça do título e Manuel. Eram os nomes dos seus pais.
Até hoje seus assassinos não foram punidos. Como a história não terminou, um veterano militar que vive nos Estados Unidos tem o que temer, como escreveu Dorrit Harazim em artigo, para (não) variar, soberbo no domingo (a íntegra pode ser lida aqui). Termina assim:
“A última visão que Navia e seus companheiros tiveram de Jara foi do seu espancamento a golpes de fuzil na saleta do estádio. No final da mesma tarde, cruzaram o saguão principal para serem transferidos para o Estádio Nacional. Ali se depararam com cerca de 50 cadáveres espalhados pelo chão. Entre eles, o de Victor Jara.”
“Foi somente em 2009 que a investigação conduzida pelo juiz Miguel Vásquez conseguiu chegar ao nome do homem que teria apertado o gatilho do primeiro tiro contra a nuca do prisioneiro. Depois, o oficial teria ordenado aos soldados presentes que prosseguissem com a fuzilaria. Embora Pedro Barrientos negue jamais ter sequer cruzado com o músico, a família Jara espera que o Supremo Tribunal chileno encaminhe o aguardado pedido de extradição aos Estados Unidos.”
“Se Barrientos algum dia retornar, talvez se pergunte para que serviu tanta brutalidade. O Estádio Chile foi rebatizado de Estádio Victor Jara. As fitas máster das gravações do músico que a ditadura se empenhou em destruir foram laboriosamente substituídas por outras versões. Brotaram remixagens, remasterizações, foi lançada uma caixa com 9 CDs, republicada uma antologia com seus poemas. Bandas jovens o interpretam como um dos seus, companheiros velhos o cantam como no passado. Hoje, Victor Jara teria 81 anos.”