Blog do Mario Magalhaes

Há 100 anos nascia o jornalista Joaquim Câmara Ferreira, torturado em duas ditaduras e morto no pau-de-arara em 1970

Mário Magalhães

 

( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )

Nascido no dia 5 de setembro de 1913, cem anos atrás, o jornalista Joaquim Câmara Ferreira era tão discreto que até hoje poucos historiadores se deram conta de que ele foi um dos maiores personagens da esquerda brasileira no século XX.

Comunista desde o alvorecer da década de 1930, ele conspirou, protegeu perseguidos, penou anos na cadeia, conduziu greves, combateu duas ditaduras, ajudou a botar para correr um bando de integralistas, editou jornais, viveu escondido, tornou-se guerrilheiro, fez amigos, amou e foi amado. Lutou por seus valores até o suspiro derradeiro.

Dois momentos em que ele foi protagonista da história do Brasil: na organização clandestina da célebre Greve dos 300 Mil, que parou São Paulo em março e abril de 1953; e como uma espécie de “comissário político” no sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick, de 4 a 7 de setembro de 69.

Há 44 anos, Câmara estava trancafiado com o diplomata, em um esconderijo aqui no Rio. Líder da organização armada Ação Libertadora Nacional, ao lado de Carlos Marighella, era conhecido como “Toledo” e “Velho”.

Câmara foi torturado na ditadura de Getulio Vargas, o Estado Novo (1937-45), e na ditadura instaurada em 64. Morreu ao ser colocado no pau-de-arara pelo delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury e sua turma. Era outubro de 1970, e Câmara tinha 57 anos.

É legítimo concordar ou não com suas ideias. Mas é imperdoável um ser humano ter sido torturado e morto como ele foi. Até hoje não houve castigo para os seus assassinos.

Logo mais, a partir das 19h, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo promove um ato em homenagem à memória do colega centenário.

Quem o conheceu de perto, como o Juca Kfouri, pode falar melhor. Clique aqui para ler seu comovente depoimento, “Eterna gratidão”.