Amarildo, 1 mês e 1 dia
Mário Magalhães
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( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
No sábado à noite, escutei “Veraneio vascaína” assistindo de novo aqui no Rio ao filme “Somos tão jovens”.
Na terça-feira, jantando em Salvador, a televisão _sim, o restaurante tinha TV…_ mostrava um clipe do Capital Inicial tocando a mesma música.
Composta por Renato Russo e Flávio Lemos, ela é da época em que eles integravam o Aborto Elétrico.
Seria uma trilha involuntária para o desaparecimento do Amarildo?
Mário Magalhães
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Surpreendido por nuvens carregadas que o vento enfim começa a soprar para longe, não acompanhei o noticiário sobre o Fla x Flu, não assisti aos debates da TV, não li as análises na internet e nos jornais ou mesmo tive tempo de conversar com os amigos. Só consegui ver os 3 a 2 para o time do Mano, placar falso que escamoteia a imensa superioridade do vencedor, que poderia ter enfiado uma goleada.
Digo tudo isso para me desculpar pelo que suponho terem sido exaustivas menções à coincidência histórica que não resisto a registrar: mais de meio século depois do tête-à-tête televisivo, debate no qual John Kennedy jantou Richard Nixon e disparou rumo à Casa Branca, um Kennedy e um Nixon voltaram a se confrontar, dessa vez no futebol e com resultado contrário: o rubro-negro de Nixon engoliu o tricolor de Kennedy.
Em setembro de 1960, com inédita transmissão ao vivo para 70 milhões de norte-americanos, o democrata Kennedy debateu com o republicano Nixon, na campanha presidencial. O primeiro seria eleito e governaria até ser assassinado, em 1963. O segundo chegaria lá em 69 e renunciaria em 74, acossado pelo escândalo Watergate.
Pois agora dois moleques com os nomes deles despontam aqui no Rio. Sem me alongar, observo que o Kennedy é mais jovem e mais bem falado do que o Nixon. Tomara que vençam na vida.
É curioso que Kennedy não seja uma homenagem a John, mas, aparentemente, a um irmão mais moço do marido de Jacqueline que também seria morto a bala: Robert. O garoto do Flu se chama Roberth Kennedy, com “h” no fim do prenome.
Não sei se, como parece, Nixon é uma referência a quem imagino. Já ouvi que ele seria xará do pai, que por sua vez deve ter o nome que tem por causa do presidente que caiu no Watergate.
Mesmo sem certezas sobre os nomes, que foi engraçado foi. Ainda que os dois devam ter ficado juntos em campo por um ou dois minutos, depois de Kennedy entrar e antes de Nixon sair.
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Antes da largada, o ceticismo atacou Drauzio Varella, que contou:
“Pela primeira vez, corri a maratona do Rio de Janeiro. Na concentração que a antecede, um corredor me alertou com a isenção habitual dos cariocas quando se referem à cidade:
‘Doutor, você vai correr a maratona mais bonita do mundo’.”
Depois de percorrer os 42.195 metros, o médico paulista gente boa deixou-se contaminar pelo encanto:
“Mal atravessei a linha de chegada, fui invadido por uma sensação de paz celestial, senti um tuim nos ouvidos igual a barato de droga, com vista para o Cristo Redentor. Caminhei de volta para pegar um táxi. O Pão de Açúcar continuava lá, com o bondinho e os barcos. O rapaz tinha toda razão, foi a maratona mais bonita que já corri”.
Leia aqui a íntegra da coluna do doutor, sábado na “Folha”.
Mário Magalhães
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Caetano Veloso dedicou sua coluna de ontem, no “Globo”, ao desaparecimento do Amarildo. A abertura:
“O desaparecimento de Amarildo Dias de Souza, depois de ter sido levado à UPP da Rocinha, é o acontecimento mais impactante nesse período de eventos marcantes na cidade. É, na verdade, dilacerante saber que um pai de família sumiu sem que autoridades que o levaram tenham apresentado explicações para o fato, apenas porque isso seria tido como natural no ambiente onde ele vivia. Quando multidões de jovens saem às ruas para exigir responsabilidade de seus governantes, ter a polícia admitindo ocorrência tão terrível é sinal de que as partes da nossa sociedade vinham mesmo se comunicando muito insatisfatoriamente entre si. O cuidado extremo deveria pautar as ações policiais. Mas não. Além dos abusos exibidos na repressão às passeatas, o desrespeito à vida dessa família grita que a brutalidade contra os cidadãos pobres não quer nem mesmo fingir que se envergonha de perpetuar-se”.
Clique aqui para ler o artigo na íntegra.
Mário Magalhães
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O roteiro é conhecido. Tem um remake agora. Passo a passo:
1) desmoralize a família e os amigos da vítima (Bete, a mulher, sobretudo);
2) desmoralize a vítima (Amarildo, desaparecido);
3) desmoralize quem não se curva à covardia (o alvo do momento é o delegado Orlando Zaccone);
4) desmoralize quem denuncia o filme manjado (aguarde a próxima sequência).
Mário Magalhães
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A mãe do Arnaldo, Anete, já é nonagenária. O pai do Arnaldo, João de Deus, tem alguns anos a mais do que ela.
A companheira do Arnaldo ruma para os 62 anos.
Faltavam 13 dias para o Arnaldo completar 24 anos quando agentes da ditadura o mataram. Ele não viveria para conhecer o filho que sua companheira carregava na barriga.
Os restos de Arnaldo Cardoso Rocha serão exumados na segunda-feira em Belo Horizonte, a partir das 8h, no cemitério Parque da Colina. A iniciativa é da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, vinculada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
O propósito da exumação, pedida pela família do Arnaldo, é obter mais informações sobre as circunstâncias em que tiraram sua vida.
O Arnaldo era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização armada de combate à ditadura instaurada em 1964.
Uma emboscada preparada pelo Destacamento de Operações de Informações (DOI) do II Exército surpreendeu-o em São Paulo no dia 15 de março de 1973.
Seu cadáver foi entregue em caixão lacrado ao pai.
Sua companheira, Iara Xavier Pereira, recapitula: “Com base no exame necroscópico da época, é possível identificar pelo menos um ferimento com características de defesa e outros dois ferimentos com o atirador em posição superior à do Arnaldo”.
Em outras palavras, há indícios de que o guerrilheiro da ALN foi assassinado depois de ser imobilizado.