Blog do Mario Magalhaes

Humilham o Brasil, e Dilma baixa a cabeça

Mário Magalhães

Glenn Greenwald (esq.) e David Miranda – Foto Ricardo Moraes/Reuters

 

( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )

Primeiro, vieram as revelações sobre a espionagem de brasileiros pelo governo dos Estados Unidos.

O Itamaraty chiou, mas pegou leve.

Afinal, a Dilma visitará o Obama em outubro, e os diplomatas não querem estragar o convescote.

Mais do que isso, acalentam o sonho de um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Os fins, ambiciosos, justificariam os meios, curvar-se diante da arbitrariedade.

Depois, submeteram o presidente da Bolívia, Evo Morales, à humilhação de ter o avião interceptado na Europa, a fim de procurarem Edward Snowden a bordo. Para quem desembarcou hoje de uma longa viagem a Marte, trata-se do técnico que trabalhou para a Agência de Segurança Nacional dos EUA e denunciou a arapongagem high-tech da NSA (a sigla inglesa da agência) e da CIA mundo afora.

O Brasil é a maior potência sul-americana. Reclamou, mas nos modos polidos _ou pusilânimes_ da “carrière”.

Quem muito se abaixa mostra o que não deve, e deu no deu.

No domingo, o cidadão brasileiro David Miranda foi detido por quase 12 horas em um aeroporto londrino, com base na lei local de antiterrorismo. Antes de submetê-lo a constrangimento, as autoridades do Reino Unido avisaram os chapas de Washington.

Miranda não era suspeito de vínculo com o terror. Foi aprisionado para intimidarem seu companheiro, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, radicado aqui no Rio. Foi Greenwald quem informou o planeta sobre a escandalosa documentação sigilosa recolhida por Edward Snowden.

O Itamaraty pede explicações, reclama, mas não encara os governos do Reino Unido e dos Estados Unidos. O palavreado de protesto serve mais para consumo interno, voltado à opinião pública brasileira.

Desde a revelação sobre a espionagem ilegal, o governo Dilma Rousseff, por meio do chanceler Antônio Patriota, recusou-se a tomar uma atitude à altura do lugar que o Brasil aspira entre as nações.

A reação altiva seria oferecer asilo a Edward Snowden, que prestou um serviço ao Brasil ao avisar sobre a intromissão nas comunicações por telefone, e-mail etc.

Patriota, contudo, apressou-se a esclarecer: o Brasil não estava aberto a Snowden, que na falta de opção acabou abrigado pelo governo ultra-autoritário da Rússia.

Patriota e Dilma enrolam. Se querem mesmo resistir à humilhação ao Brasil e a um cidadão nacional, ainda é tempo de anunciar que Edward Snowden seria bem-vindo aqui.

Dá para imaginar a tormenta se, no lugar do Brasil, estivessem os Estados Unidos ou o Reino Unido?