Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : agosto 2013

Bienal debate amor e ódio na arquibancada
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Mário Magalhães

 

( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )

“Amor & ódio na arquibancada”. É esse o tema que José Miguel Wisnik e Bernardo Buarque de Hollanda debatem no domingo, 1º de setembro, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. O bate-papo começa às 16h30. Integra a programação do Placar Literário, espaço voltado aos assuntos do futebol. O curador é o grande tricolor João Máximo.

Para quem quiser conhecer o programa completo do Placar Literário, basta clicar aqui.

Em tempo: farei, com muito menos talento, o papel de Xavi Hernandez, distribuindo a bola para os dois craques ensaístas e intermediando a conversa com a plateia.


Entulho autoritário
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Mário Magalhães

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Os apagões lembram que o ministro de Minas e Energia é Edison Lobão. O apadrinhado de José Sarney não era apenas um serviçal da ditadura. Mantinha vínculos com a turma mais barra pesada da repressão, aquela que operava em sombras ainda mais escuras do que as provocadas pela falta de luz.

Edison Lobão: da ditadura à democracia, numa boa – Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

 


Na ficção da TV, o jornalismo nunca foi tão vibrante como em ‘The Newsroom’
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Mário Magalhães

Jeff Daniels, como o âncora em “The Newsroom”

 

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(Por sugestão do Thiago999, alerto que o texto abaixo contém informações sobre a trama. Embora desde o primeiro episódio desta segunda temporada esteja claro que a história se desenvolve em torno de um brutal erro em notícia veiculada pela emissora, peço desculpas caso tenha revelado algum detalhe impróprio. Obrigado, Thiago.)

Até onde a memória alcança, foi um dos episódios mais espetaculares de qualquer série ou seriado de ficção a que eu assisti na TV em todos os tempos. Tratando de jornalismo, não me lembro de nenhum programa igual.

De tirar o fôlego, tenso e comovente, assim foi “The Newsroom” na segunda-feira, na HBO. Deixei passar uns dias para dar o meu pitaco, e ainda agora me emociono com as agruras dos jornalistas que embarcaram numa tremenda cascata, ao noticiar que tropas americanas teriam empregado gás sarin numa operação além-mar.

Um dos momentos mais dramáticos do livro “Todos os homens do presidente” conta um erro de Bob Woodward e Carl Bernstein. Em reportagem do caso Watergate publicada no “Washington Post”, na primeira metade dos anos 1970, eles informaram errado, por terem entendido mal a fonte, o Garganta Profunda. Essa passagem, que eu recorde, não consta do filme.

A propósito, a versão do livro para o cinema é muito boa, mas fica difícil encarar, na comparação, o episódio de “The Newsroom”. Como não há intervalo, não deu tempo nem de ir ao banheiro, porque todas as cenas e sequências hipnotizavam.

Um dos maiores méritos do criador de “The Newsroom”, Aaron Sorkin, é o ritmo frenético. Desconfio de que ele brincou com isso nas ironias entre o âncora americano e a produtora britânica, menosprezando os esportes nacionais de cada um. A personagem de Jeff Daniels tripudiou do 0 a 0 no futebol-soccer, e a de Emily Mortimer perguntou sobre ritmo nas modalidades norte-americanas. Ele reconheceu que um jogador de beisebol pode até comer um sanduíche durante a partida.

Essa temporada da série se desenvolve em torno do erro monumental, levado ao ar no canal jornalístico a cabo. Deveria ser estudada nas escolas e provocar as redações. Em vez de tanta masturbação semiológica impingida aos alunos nas faculdades, deveriam discutir os grandes temas abordados ficcionalmente em “The Newsroom”. Por exemplo: era possível evitar o fiasco? Que procedimentos não foram tomados? E que valores foram ignorados?

Existe assunto sem fim para teses acadêmicas, oficinas jornalísticas, debates de quem se preocupa com jornalismo e até para papo de botequim, mesmo entre quem não tem nada a ver com a nossa profissão.

A produção é dos Estados Unidos, cujo melhor jornalismo vem perdendo qualidade, ao se transformar em braço propagandístico do Departamento de Estado.

Foi tudo tão sensacional que o descaso da HBO com a tradução e as legendas dessa vez não irritou tanto. “Evidence” quase sempre é “prova”, e não “evidência” (ok, vocês estão imitando o jornalismo brasileiro).

“Resignation”é renúncia ou pedido de demissão, e “to resign” é renunciar ou pedir demissão, e não resignação ou se resignar _esses erros mudaram o conteúdo da cena final.

A emissora se esqueceu de colocar legenda na derradeira manifestação da dona da emissora, vivida por Jane Fonda. Ao ouvir que o diretor de jornalismo e o âncora perderam a confiança do público, ela não aceita os pedidos de demissão. Pelo contrário, mando-os trazer a confiança de volta.

Há muitas restrições jornalísticas sobre os “jornalistas” de “The Newsroom”, mas eles têm uma qualidade fascinante: não perderam o encanto com o jornalismo, com o seu caráter de serviço público. Não perderam a ambição de fazer sempre melhor. (E olha que o âncora é republicano, e uma possível interpretação da história de segunda-feira é que a “barriga” _erro grave de informação_ foi culpa do sentimento crítico exacerbado contra a política externa dos EUA.)

O jornalismo de “The Newsroom” tem dado um baile no jornalismo real, inclusive na rapidez que teve para reconhecer o erro.


Primeiro, o Amarildo sumiu da Rocinha. Agora, vai sumindo do noticiário. Daqui a pouco, sumirá da memória
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Mário Magalhães

Amarildo: o governo do Rio prometeu esclarecer; até agora, nada

 

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Lembra o Amarildo? Por quanto tempo lembrará?

Quando escurecer, daqui a pouco aqui no Rio, fará um mês e 14 dias que o Amarildo sumiu na Rocinha. Na última vez em que foi visto, estava sob custódia do Estado, por meio de agentes públicos, policiais militares.

A despeito dos esforços generosos de tanta gente que cobra seu paradeiro, o caso vai desaparecendo do noticiário.

Quanto mais esquecido fica, mais aumentam as chances de dar em nada, embora a regra contemple exceções (às vezes, quando cai o silêncio, melhoram as condições para investigar um mistério).

A única maneira de manter o poder público sob pressão, para não abandonar a apuração, é não esquecendo o que houve.

Quem não esquece cobra.

E quem cobra, entre outras virtudes, tem a de contribuir para que a barbárie não se repita.


Síndrome de vira-lata ameaça futebol carioca
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Mário Magalhães

Vitinho, no centro da foto: foi bom enquanto durou

 

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As coisas não andam bem aqui pelo futebol do Rio. Parece que a síndrome de vira-lata, sentimento de inferioridade diagnosticado pelo grande tricolor Nelson Rodrigues, voltou a nos maltratar.

Avassalador no Campeonato Estadual, o Botafogo chegou forte ao Brasileiro, não é à toa que ocupa o segundo lugar. Mas se desfez de Fellype Gabriel e Andrezinho, jogadores importantes, com a competição já em andamento. Agora, foi-se a preço de banana Vitinho, garoto bom de bola que vinha crescendo ao aprender que futebol é esporte coletivo. Partiu graças à multa rescisória baixíssima, expressão de pensamento pequeno. Faltou à direção alvinegra pensar mais alto. Parece que, se der para vencer o Brasileiro, bom. Se não der, tudo bem. Desperdício de oportunidade de reviver 95. Que Oswaldo, Seedorf e companhia se virem com o elenco contadinho.

O Vasco foi incapaz de avisar Dorival sobre a possível saída de Éder Luís. O técnico soube na véspera e teve de improvisar contra o Corinthians. O clube dá impressão de achar que escapará do rebaixamento, mas que não adianta sonhar com muita coisa.

O Flamengo, nem se fale, com seus reforços buscados na xepa. Se os contratados do interior paulista fossem bons, é lógico que algum clube da capital os teria chamado antes. O time voltou a se acomodar na parte de baixo da tabela. Até agora, reedita anos recentes, quando cobiçou no máximo permanecer na primeirona.

O Fluminense perdeu Nem, Thiago Neves e, agora, o aposentado Deco. O retrato da virada no atual campeão é a retranca pusilânime montada por Vanderlei para encarar o São Paulo no Morumbi. Parecia que enfrentaria o Galo, o Cruzeiro. Mas era o São Paulo, caindo pelas tabelas.

Os quatro clubes cariocas têm algo em comum além da incapacidade de honrar o pagamento dos salários nas datas combinadas. No atual momento, falta ambição, até para o Botafogo que dá gosto ver jogar _pelo menos dava até outro dia.

(A Copa do Brasil tem características peculiares. No mata-mata, um clube de massa como o Flamengo, com o Maracanã lotado, pode ganhar do Cruzeiro, ainda que os mineiros sejam os favoritos.)


Justo Verissimo, que odeia pobre, é o patrono dos médicos covardes, egoístas e impiedosos que tentam impedir colegas de trabalhar
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Mário Magalhães

Justo Verissimo, personagem criado por Chico Anysio, gênio da raça

 

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Um monte de médicos mais brancos do que os seus jalecos se escabela ao gritar “escravos!” para colegas negros e mestiços que chegam ao Brasil (veja o vídeo).

A informação é objetiva, e o perfil racial predominante de um grupo não é necessariamente a razão da atitude do outro.

No Facebook, alguém comenta que os estrangeiros, boa parte proveniente de Cuba, não têm cara de médico.

Não deu para entender? Pois uma jornalista, representante dos miolos de tantos dos nossos pares, desnuda-se na internet: “Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas têm uma cara de empregada doméstica. Será que são médicas mesmo?” (leia reportagem).

A afirmação nojenta não lembra nenhum crime? O Ministério Público do Rio Grande do Norte não agirá?

Um cubano se espanta com o fato de que vem atender pacientes nos rincões miseráveis onde os manifestantes se recusam a trabalhar, e mesmo assim é alvo de ira (reportagem aqui). De fato, é para se espantar.

As entidades corporativas e a minoria de médicos que elas têm arrastado para seus atos públicos não se interessaram em atender os pobres nos fins de mundo onde eles padecem.

Alegam preocupação com a saúde dos pobres coitados nas mãos de médicos despreparados… Lideram a gincana de farisaísmo.

Dizem-se contra “trabalho escravo”, mas a maioria nunca disse um ai contra o trabalho escravo real, desgraça que perdura no Brasil.

Nem nunca saiu às ruas para protestar contra governos que abandonam a saúde.

Na prática, se forem vitoriosos, impedirão os mais pobres de ter acesso a médico. São covardes, egoístas e impiedosos.

Até onde eu entendo, o Programa Mais Médicos está longe da perfeição. Acho um absurdo os cubanos, assalariados, não receberem diretamente o seu salário. Mais: a lei ampara eventuais pedidos de asilo de médicos cubanos ou de qualquer outra nacionalidade, por mais que burocratas intolerantes possam espernear.

Mas, se os médicos brasileiros não querem ir aonde o povo está, bem-vindos sejam os estrangeiros.

Justo Verissimo era aquele personagem do Chico Anysio que cometia o bordão “odeio pobre”.

Eis um digno patrono dos médicos que querem impedir a medicina de amparar os mais pobres.