Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : julho 2013

1968, pelas lentes de Evandro Teixeira
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Mário Magalhães

( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )

Cinco invernos atrás, eu e uma adorável jovem de sete anos começávamos a amargar um atraso de duas horas no voo para Porto Alegre quando topei com o Evandro Teixeira. Até embarcarmos, no Galeão, o velho companheiro de coberturas contou causos de sua longa vida no fotojornalismo. Já a bordo, minha filha, impressionada, murmurou no meu ouvido:

“Pai, tudo o que ele disse é verdade?”

“Parece incrível, mas é”, respondi.

Nascido nos idos de 1935, em Irajuba, nos cafundós da Bahia, Evandro deu os primeiros passos na carreira em 1957, no “Diário da Noite” e “O Jornal”. Eram títulos cariocas do conglomerado Diários Associados, propriedade do magnata Assis Chateaubriand.

Para a minha geração, Evandro se tornou sinônimo de “Jornal do Brasil”, onde militou por 47 anos. Ainda me lembro da dupla que ele compunha com o saudoso repórter Oldemário Touguinhó. Nunca compartilhei a mesma redação com eles, mas viajamos cobrindo excursões da seleção.

É difícil saber se o repórter fotográfico Evandro Teixeira é mais repórter ou fotógrafo, pois combina a excelência estética e informativa com uma vocação inabalável pelo asfalto, o prazer de gastar sola como testemunha ocular da história.

Não é à toa que ele se consagrou como um dos maiores fotojornalistas do mundo. Numa exposição da Leica Gallery, em Nova York, integrou o time dos 40 mais importantes fotógrafos do planeta, ao lado de colegas do calibre de Robert Capa, Henri Cartier-Bresson e Sebastião Salgado.

Estimulado pelas manifestações de junho de 2013, resolvi incomodá-lo e pedir uma amostra de suas célebres fotos das passeatas e confrontos de 1968. Evandro, generosamente, mandou 11 imagens. É o próprio “curador” dessa “mostra” aqui no blog.

Há flagrantes da Passeata dos 100 Mil, do enterro do estudante Edson Luis, da repressão policial na saída de uma missa na Candelária. A série termina com uma fotografia de 1964, do forte de Copacabana tomado por militares golpistas _uma semana depois, eu chegaria da maternidade para morar a menos de 500 metros dali. Naquele ano, instaurou-se a ditadura que os protestos registrados por Evandro Teixeira viriam a encarar quatro anos mais tarde.


O Baresi do Brasil
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Mário Magalhães

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Em 1994, o líbero italiano Franco Baresi estourou um joelho no começo da Copa do Mundo, operou-o e regressou a tempo de brilhar na final, anulando o melhor jogador da competição, Romário. Sua atuação fulgurante, aos 34 anos, foi eclipsada por ter desperdiçado sua cobrança na série de pênaltis em que a seleção brasileira conquistou o tetra.

Mas ninguém esqueceu a volta por cima, 24 dias entre a contusão e o retorno: para mim, que testemunhei a decisão no estádio Rose Bowl, na Califórnia, o eterno capitão do Milan consagrou-se como o melhor em campo e a encarnação da valentia.

Na semana passada, o jornalista Juca Kfouri, 63, cobria a Copa das Confederações quando sofreu um acidente vascular, como contou no seu blog, na coluna “Desfalque”. Baixou hospital em Belo Horizonte e, em vez de sossegar, escreveu de lá sobre a semifinal entre Brasil e Uruguai.

Depois do pit stop de duas noites, embarcou para o Rio e contou o desfecho da Copa das Confederações. Sem parar.

Quem gosta do Juca, preferia que ele mostrasse mais juízo e tivesse descansado um pouco.

Quem admira seus imensos méritos jornalísticos e o caráter de homem decente _combinação pouco comum no nosso ofício_ desejou que ele se aquietasse para deixar o susto passar.

Mas aí o Juca não seria o Juca. Pois, como Franco Baresi, o cabra é valente.


O prefeito safo, por Aroeira
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Mário Magalhães

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Charge de Aroeira em “O Dia”, sobre o prefeito Eduardo Paes e a CPI dos ônibus:


Marin na tribuna envergonha o Brasil
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Mário Magalhães

À direita, apontado pela flecha, Marin faz cara feia na tribuna do Maracanã – Foto Juan Barreto/AFP

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Já se falou e escreveu fartamente sobre o chocolate que o Brasil aplicou na Espanha. Poupo-lhes de reiterações. O baile de ontem no Maracanã tonifica a convicção de que o time de Felipão e Parreira chegará forte à Copa de 2014. Depois de anos, voltei a palpitar sobre futebol, aqui neste blog recém-parido. Não tenho muito a acrescentar ao que observei nas últimas semanas. Os posts podem ser lidos clicando nos títulos: “No Maracanã, Brasil reforça condição de um dos favoritos em 2014”; “Na vitória do Flu, outra ótima notícia para o Brasil: Fred volta tinindo para a Copa das Confederações”; “Mesmo se levar um chocolate na final, seleção sairá da Copa das Confederações mais forte do que entrou”; “Espanha chega ‘aos peidos’ contra o Brasil, que vai acelerar o jogo”.

Os principais trunfos no ano que vem: elenco talentoso; dupla de técnicos eficientes; tradição, que pesa em Copa do Mundo; jogar em casa.

Feito o registro boleiro, uma anotação sobre a história: é vergonhoso que o cidadão José Maria Marin tenha comparecido à tribuna de honra do Maracanã e entregue medalhas (pelo menos dessa vez ele não ficou com nenhuma, ao que parece).

A memória nacional não merecia tal ultraje. Lá estava o presidente da CBF, já sem o acaju colorindo o cabelo, que permanece com um arranjo extravagante. E que deu um chiliquito, passando a impressão de que queriam impedi-lo de se aproximar para a foto com os vencedores (quem ganhou foram os jogadores e a comissão técnica, não o cartola). Conseguiu sair no canto das fotografias.

O vexame não é Marin pegar medalha alheia, nem ser um fascistoide ou mesmo ter apoiado a ditadura instaurada em 1964.

O que o deslegitima para representar o Brasil é o envolvimento no episódio que resultou no assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Em 1975, como deputado estadual paulista da Arena, o partido-fantoche da ditadura, Marin denunciou uma “infiltração comunista” no jornalismo da TV Cultura.

Quem dirigia o departamento de jornalismo da emissora? Herzog.

Não demorou para que o diretor fosse preso e torturado até ser morto nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do II Exército. As instalações do DOI, em São Paulo, constituíam um campo de concentração onde se torturava, matava e se providenciava o sumiço de corpos de opositores.

O Brasil melhorou muito, e a esmagadora maioria da população não sente saudade da ditadura _viúvas e carpideiras são exceções.

A presença de Marin no Maracanã desonra a democracia e a nossa história.

Haverá quem diga: o protocolo prevê o mandachuva da CBF na tribuna.

Indago: por que se permitiu que um homem com essa trajetória viesse a presidir a entidade? O governo tinha cacife para barrá-lo, e não barrou.

Na noite luminosa do tetra na Copa das Confederações, os fantasmas do passado lembraram o período de trevas.


Contra o ‘Estado que mata’, moradores da Maré farão protesto terça-feira na avenida Brasil
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Mário Magalhães

Imagem da noite dos dez mortos na Maré, semana passada

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A partir das 15h desta terça-feira, moradores da Maré vão se concentrar nas bordas da avenida Brasil para protestar contra a morte de dez pessoas. A convocação é assinada por 26 entidades.

Na semana passada, traficantes assassinaram um sargento do Bope, e a Polícia Militar invadiu o complexo de favelas cariocas e abateu nove pessoas. Duas delas não tinham antecedentes criminais, como um garoto de 16 anos. Há controvérsia sobre as circunstâncias das mortes.

O ato multirreligioso em memória dos que perderam a vida também homenageia o sargento PM.

Uma observação e um alerta: se quem vive em áreas ricas da cidade pode interromper ruas e avenidas para protestar, é legítimo se manifestar em defesa da vida parando o trânsito na avenida Brasil, por mais transtornos que o gesto possa causar. Não se trata de uma sugestão, mas de apuração: é possível que isso venha a ocorrer. Se a PM reprimir os presentes em um ato pacífico, reafirmará o princípio que se constata todos os dias no Rio: o comportamento das forças de segurança varia de acordo com o poderio econômico dos manifestantes.

Eis a convocação:

ESTADO QUE MATA, NUNCA MAIS!

Ato Ecumênico em memória dos mortos da Maré

Os moradores da Maré, com o apoio das instituições citadas abaixo, farão um grande Ato Ecumênico em memória das pessoas que morreram na Maré durante a operação policial ocorrida nos dias 24 e 25 de junho do ano corrente.

O Ato acontecerá no dia 2 de julho, entre as passarelas 7 e 10 da Avenida Brasil. A concentração será partir das 15h na passarela 9.

Em memória de:

Ademir da Silva Lima, de 29 anos,

André Gomes de Souza Júnior, de 16 anos,

Carlos Eduardo Silva Pinto, de 23 anos,

Ednelson dos Santos, de 42 anos,

Eraldo Santos da Silva, de 35 anos,

Fabrício Souza Gomes, de 26 anos,

Jonatha Farias da Silva, de 16 anos

José Everton Silva de Oliveira, de 21 anos,

Renato Alexandre Mello da Silva, de 39 anos,

Roberto Alves Rodrigues.

Instituições organizadoras:

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Esperança (AMACE)

Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro

Associação de Moradores de Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Associação de Moradores Marcílio Dias

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Associação de Moradores Roquete Pinto

Associação de Moradores Nova Maré

Associação de Moradores Praia de Ramos

Associação de Moradores Conjunto Pinheiro

Associação de Moradores Parque Ecológico

Associação de Moradores da Nova Holanda

Associação de Moradores do Parque União (AMPU)

Associação dos Moradores do Parque Maré

Associação dos Moradores do Parque Rubens Vaz (Amrpv)

Associação de Moradores da Vila do João (AMOVIJO)

Centro Municipal de Saúde Hélio Smidth

Centro Social Tecnobox

Cidade Escola Aprendiz

Conselho de Moradores da Vila do Pinheiro (COMOVIP)

Cooperativa de Reciclagem Eu Quero Liberdade Ltda – COOPER Liberdade

Instituto Vida Real

Luta pela Paz

Observatório de Favelas

Projeto Uerê

Redes de Desenvolvimento da Maré

ROÇA! Produtos Naturais e Orgânicos


Seria impossível contratar Neymar hoje, afirma jornalista catalão
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Mário Magalhães

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Tão feliz quanto os torcedores brasileiros, talvez somente os do Barcelona.

Nem me refiro nem aos catalães mais empedernidos, que por conta de umas questões paralelas secam a Espanha, mesmo quando Vicente Del Bosque escala maioria catalã em sua seleção.

A maioria dos blaugranas comemora a atuação de Neymar no triunfo espetacular do Brasil por 3 a 0, conquistando pela quarta vez a Copa das Confederações. Ao contrário de Johan Cruyff, para quem a dupla não vai se bicar, já entornam uns copos de cava, esperançosos no sucesso da dobradinha Messi-Neymar.

O tom do jornalismo esportivo catalão foi este: já que a Roja foi humilhada, menos mal que Neymar deu show. Fizeram contas: sites e jornais concluem que hoje ficaria difícil contratar o ex-santista. O UOL informou que o clube europeu desembolsou 58 milhões de euros na negociação, incluindo luvas.

Joan Vehils, diretor do “Sport”, escreve sobre Neymar Jr. na edição desta segunda-feira do diário de Barcelona: “Ele sozinho foi capaz de desequilibrar a defesa espanhola. Não quero nem pensar no que será capaz de realizar o duo Messi-Neymar… Fez bem o Barça em contratar o brasileiro antes da disputa desse torneio, porque hoje seria impossível. O melhor futebolista da Copa das Confederações vale hoje muitíssimo mais do que há 15 dias”.

As primeiras páginas do “Sport” e do “Mundo Deportivo”, catalães, celebram Neymar. “As” e “Marca”, de Madrid, prometem revanche em 2014 (“Voltaremos”), mas não deixam de reverenciar o craque brasileiro que seduz o planeta.