Na era Telê, Morumbi tocava axé nos intervalos. Música pode ser uma boa nos estádios
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Muita gente está na bronca porque inventaram de tocar músicas nos intervalos das partidas nas novas “arenas” de futebol.
Assino embaixo dos protestos contra o volume insano e o repertório desmiolado que mais parece provocação.
Mas acho que, com certos critérios, a música pode deixar mais divertido o tempo entre o primeiro e o segundo.
Na Olimpíada de 1996, uma DJ californiana eletrizava os intervalos dos jogos de futebol no Orange Bowl, em Miami. A loira balzaca tocava Beatles, Stones, Clapton, Village People, The Doors e até a “Macarena”. O público vibrava.
Sim, eu sei, os Estados Unidos estão mais longe da tradição boleira do que o Cazaquistão. E o som no futebol migrou dos hábitos de outros esportes.
Ao contrário do que se tem comentado, contudo, música no intervalo não é um procedimento tão estranho assim no Brasil. Não falo das charangas consagradas em estádios como o Maracanã. Desde que eu me entendo por gente, elas tocaram lá, o jogo inteiro.
Lembro-me de uma das estações mais profícuas que o futebol nacional viveu, a era Telê no São Paulo Futebol Clube. Em 1992 e 93, os anos da glória do bicampeonato mundial, os alto-falantes do Morumbi ecoavam nos intervalos um clássico do axé, “Prefixo de Verão”, com a Banda Mel (ouça aqui).
Nunca soube de alguém se incomodar. A contagiante canção de Beto Silva reverenciando Salvador, os negros e o Pelô tinha tudo a ver com o astral do futebol, ainda que na capital paulista, e não baiana.
Critério é isso: axé tem a ver; João Sebastião, meu compositor clássico favorito, não.
Talvez, conversando com DJs, se chegue a uma trilha sonora bem bolada e a um volume civilizado que tornem mais agradáveis os intervalos nos estádios.