Como Guardiola no Barça, Abel não quis fazer mudanças
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Quem mais ganhou com a saída de Abel do Fluminense, depois de dois anos no clube, foi o próprio Abel. Técnico admirável, ele não merecia a sucessão desmoralizante de derrotas. Já são cinco consecutivas no Campeonato Brasileiro. Muito menos as pressões do patrocinador, Unimed, e de cartolas que pediam sua cabeça. A entrega a Abel de uma réplica do troféu nacional do ano passado, na cerimônia que sacralizava o pontapé no seu traseiro, comprovou que a hipocrisia desconhece limites.
Os jogadores têm estado muito aquém do que se espera do elenco que defende o título. Goleiro de seleção, Cavalieri melhorou, mas vinha falhando. Fred, destaque na Copa das Confederações, entregou o clássico para o Vasco, ao ser expulso no primeiro tempo. A zaga Leandro Euzébio e Gum se apresentou mal na derrota de domingo para o Grêmio. Iria melhor com Digão, que dera um gol de presente ao Inter?
Sem contar a saída de gente como Nem e Thiago Neves.
Como é tradição, Abel pagou sozinho pelos revezes.
Mas talvez ele também tenha culpa pelo que vem acontecendo. Sua insistência em manter intocados alguns titulares que têm jogado pelo nome e novatos que não se firmam parece se dever não somente às idiossincrasias comuns aos treinadores de futebol.
Um exemplo é Deco, tremendo meia no passado, que hoje, quando está em condições físicas de ir a campo, atrasa o ritmo tricolor adaptando-o às possibilidades dos seus pulmões e das suas pernas.
Um motivo decisivo para Guardiola ter deixado o Barcelona foi a convicção, segredada a amigos, mas jamais pronunciada publicamente por ele, de que para seguir na rota dos triunfos precisaria mexer em algumas posições. Suponho que começaria por Puyol e talvez chegasse a Xavi, pela idade. Mas Pep se sentia tão devedor daquele grupo, um dos times mais espetaculares de todos os tempos, que não se dispôs a se chocar com quem havia se tornado seu amigo.
Foi comovente ontem Abel dizer que se fosse o chefe também demitiria o técnico, porque é melhor para chacoalhar o grupo. Bom caráter, deu a entender que seu sucessor poderá fazer o que ele não se dispõe. Como Guardiola, acabou virando amigo de jogadores. A gratidão prevaleceu sobre a atitude necessária de gestor. Eis uma cara decente, o que não é tão comum no futebol.