Papa defende ‘carro modesto’ para padres e desmoraliza os Jetta de cardeal
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Durante a transmissão do jogo entre Borussia Dortmund e Bayern de Munique, no sábado, passou um anúncio do Idea, da Fiat. O mesmo modelo foi propagandeado na TV antes de Flamengo x Botafogo, no domingo.
Poderiam exibir um bilhão de vezes essas publicidades, que não alcançariam o efeito das cenas do papa Francisco andando de Idea pelo Rio. Alguém reparou no recall do Strada e do Palio, outros produtos da empresa italiana, divulgado no fim de semana? O que se notou foi o carro do chefe do Vaticano.
Na entrevista a Gerson Camarotti, na Globonews, notável furo mundial, Francisco contou que em seus tempos de cardeal Bergoglio recomendava “carros modestos” aos sacerdotes de Buenos Aires. Eles precisavam de automóveis para desenvolver seus trabalhos pastorais, mas não deveriam descalçar as sandálias da humildade. Pediu que no Brasil não o fizessem passar a vergonha de ostentar um carrão.
Quanta diferença em relação ao espírito que vigorava na Arquidiocese do Rio de Janeiro até pouco tempo atrás. Em 2010, quando o jornalista Fernando Molica revelou luxos nababescos do alto clero, soube-se que dois modelos Jetta, comprados novinhos, haviam circulado pelo menos até o ano anterior no roteiro da Catedral. Um ficava à disposição do cardeal, outro do padre que controlava o caixa da Igreja. Tratei das mordomias neste post.
Para a cultura que presidia a Igreja católica aqui até 2009, sob o comando de Dom Eusébio Scheid, hoje cardeal-arcebispo emérito do Rio, talvez o comportamento do papa Francisco não passe de demagogia.
Se o seu estilo franciscano já criara constrangimentos, a perambulação de Idea incomodou mais ainda, bem como a entrevista que foi ao ar ontem à noite.
Um Idea zero-quilômetro custa de R$ 43.290 a R$ 52.400.
Um Jetta, R$ 88.290.
O papa é Idea, não blindado.
O cardeal e o padre eram Jetta.