Truculência da PM reanima protestos no Rio; Cabral se enfraquece para 2014
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
O principal evento que estimulou 500 pessoas a participarem de um protesto ontem à noite no Leblon, perto do prédio onde mora o governador Sérgio Cabral, foi a truculência da PM dias antes contra manifestantes que acampavam ali. Na calada da noite _neste caso o clichê tem acepção literal_, eles foram retirados à força pelos policiais, nas primeiras horas da terça-feira. Eram poucas dezenas. Multiplicaram-se, dois dias depois. E receberam balas de borracha e bombas de gás.
Em dois outros episódios recentes, a Polícia Militar não respeitara o dever constitucional de proteger os cidadãos. No dia 20 de junho, uma quinta-feira, os policiais, cobertos de legitimidade, haviam se defendido de ataques de vândalos, perto da sede da prefeitura, na Cidade Nova. E também preservado o patrimônio público. Foi isso o que se viu na televisão. Longe dali, porém, atacaram jovens que se manifestavam pacificamente e tentavam deixar o Centro. Uma selvageria registrada por milhares de câmaras e telefones e exibida na internet.
Muito mais grave, na semana seguinte a PM invadiu o complexo de favelas da Maré e matou nove pessoas, duas delas sem nenhum conexão comprovada com o tráfico de drogas. Foi uma vendeta pela morte de um sargento do Bope, assassinado por um criminoso. A imensa maioria dos moradores, que nada tem a ver com a bandidagem, viveu horas de terror. O sucesso relativo das UPPs tem como contraponto a manutenção da cultura repressiva estabelecida na escravidão e acentuada com a ditadura pós-1964.
Ontem, a polícia atirou com balas de borracha e dispersou com bombas de gás o protesto que se desenrolava em paz _em seguida, os baderneiros de sempre aprontaram. Estranhamente, muitos policiais usaram balaclava, máscara que impede ou dificulta a identificação. Tal peça de uniforme é um recurso corriqueiro em combates contra quadrilhas de marginais. Por que empregá-la contra manifestantes? Por que agentes do Estado temem ser reconhecidos?
Eleições
As pesquisas mostram que segue minguando o prestígio do governador Sérgio Cabral. Nos primeiro mandato, ele se beneficiou do cotejo com a malsucedida administração anterior, de Rosinha Garotinho, de quem era aliado. A gestão do Estado melhorou.
O imenso respaldo midiático, acintosamente acrítico, também foi importante para Cabral, do PMDB. Além da aliança que incorporou o PT e pedetistas históricos, como Cidinha Campos.
O jornalismo carioca praticamente ignorou o vínculo da mulher do governador com o escritório de advocacia que representa ou representava a empresa que opera o Metrô, uma concessão estadual. Ela era ou tinha sido sócia da banca.
A relação de Cabral com a empreiteira Delta se tornou pública com a tragédia na Bahia, em 2011. Mais tarde, conheceram-se imagens de um convescote do governador e secretários com o dono da construtora, em Paris (ontem à noite manifestantes levaram guardanapos, evocando a farra na França).
Enquanto os temporais do Réveillon de 2010 matavam dezenas de moradores do Estado, o governador se refugiava na sua casa de Mangaratiba. Sempre com a ideia marqueteira se não ter a imagem associada a notícias ruins. Quando, semanas atrás, havia um anúncio sobre preço de tarifas de transportes a fazer, ele sumiu e deixou o prefeito Eduardo Paes falando sozinho _em São Paulo, Alckmin e Haddad se uniram na entrevista.
Em matéria de política, um dos últimos movimentos notórios de Cabral foi respaldar as ambições do deputado Eduardo Cunha, agora líder do PMDB na Câmara.
No Rio de Janeiro, ele planeja fazer seu vice, Luiz Fernando Pezão, o sucessor em 2014. Mas a aliança com o PT se esfarela. O senador Lindberg Farias, que há pouco tempo aclamava em palanque Pezão como o futuro governador, já está em campanha _por si próprio. O atual vice patina nas sondagens eleitorais.
Com a truculência da PM, Cabral chamou a crise para o seu quintal, no Leblon. Há uma greve geral marcada para o dia 11. Se os trabalhadores se unirem aos estudantes, a situação do governador tende a piorar.
Para justificar a retirada dos acampados, ele mencionou o direito de ir e vir. Pode ser. Mas, se o argumento é esse, por que a PM impediu que milhares de garotos fossem embora do Centro na noite de 20 de junho? Direito que vale para uns tem de valer para outros.