1968, pelas lentes de Evandro Teixeira
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Cinco invernos atrás, eu e uma adorável jovem de sete anos começávamos a amargar um atraso de duas horas no voo para Porto Alegre quando topei com o Evandro Teixeira. Até embarcarmos, no Galeão, o velho companheiro de coberturas contou causos de sua longa vida no fotojornalismo. Já a bordo, minha filha, impressionada, murmurou no meu ouvido:
“Pai, tudo o que ele disse é verdade?”
“Parece incrível, mas é”, respondi.
Nascido nos idos de 1935, em Irajuba, nos cafundós da Bahia, Evandro deu os primeiros passos na carreira em 1957, no “Diário da Noite” e “O Jornal”. Eram títulos cariocas do conglomerado Diários Associados, propriedade do magnata Assis Chateaubriand.
Para a minha geração, Evandro se tornou sinônimo de “Jornal do Brasil”, onde militou por 47 anos. Ainda me lembro da dupla que ele compunha com o saudoso repórter Oldemário Touguinhó. Nunca compartilhei a mesma redação com eles, mas viajamos cobrindo excursões da seleção.
É difícil saber se o repórter fotográfico Evandro Teixeira é mais repórter ou fotógrafo, pois combina a excelência estética e informativa com uma vocação inabalável pelo asfalto, o prazer de gastar sola como testemunha ocular da história.
Não é à toa que ele se consagrou como um dos maiores fotojornalistas do mundo. Numa exposição da Leica Gallery, em Nova York, integrou o time dos 40 mais importantes fotógrafos do planeta, ao lado de colegas do calibre de Robert Capa, Henri Cartier-Bresson e Sebastião Salgado.
Estimulado pelas manifestações de junho de 2013, resolvi incomodá-lo e pedir uma amostra de suas célebres fotos das passeatas e confrontos de 1968. Evandro, generosamente, mandou 11 imagens. É o próprio “curador” dessa “mostra” aqui no blog.
Há flagrantes da Passeata dos 100 Mil, do enterro do estudante Edson Luis, da repressão policial na saída de uma missa na Candelária. A série termina com uma fotografia de 1964, do forte de Copacabana tomado por militares golpistas _uma semana depois, eu chegaria da maternidade para morar a menos de 500 metros dali. Naquele ano, instaurou-se a ditadura que os protestos registrados por Evandro Teixeira viriam a encarar quatro anos mais tarde.