Marin na tribuna envergonha o Brasil
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Já se falou e escreveu fartamente sobre o chocolate que o Brasil aplicou na Espanha. Poupo-lhes de reiterações. O baile de ontem no Maracanã tonifica a convicção de que o time de Felipão e Parreira chegará forte à Copa de 2014. Depois de anos, voltei a palpitar sobre futebol, aqui neste blog recém-parido. Não tenho muito a acrescentar ao que observei nas últimas semanas. Os posts podem ser lidos clicando nos títulos: “No Maracanã, Brasil reforça condição de um dos favoritos em 2014”; “Na vitória do Flu, outra ótima notícia para o Brasil: Fred volta tinindo para a Copa das Confederações”; “Mesmo se levar um chocolate na final, seleção sairá da Copa das Confederações mais forte do que entrou”; “Espanha chega ‘aos peidos’ contra o Brasil, que vai acelerar o jogo”.
Os principais trunfos no ano que vem: elenco talentoso; dupla de técnicos eficientes; tradição, que pesa em Copa do Mundo; jogar em casa.
Feito o registro boleiro, uma anotação sobre a história: é vergonhoso que o cidadão José Maria Marin tenha comparecido à tribuna de honra do Maracanã e entregue medalhas (pelo menos dessa vez ele não ficou com nenhuma, ao que parece).
A memória nacional não merecia tal ultraje. Lá estava o presidente da CBF, já sem o acaju colorindo o cabelo, que permanece com um arranjo extravagante. E que deu um chiliquito, passando a impressão de que queriam impedi-lo de se aproximar para a foto com os vencedores (quem ganhou foram os jogadores e a comissão técnica, não o cartola). Conseguiu sair no canto das fotografias.
O vexame não é Marin pegar medalha alheia, nem ser um fascistoide ou mesmo ter apoiado a ditadura instaurada em 1964.
O que o deslegitima para representar o Brasil é o envolvimento no episódio que resultou no assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Em 1975, como deputado estadual paulista da Arena, o partido-fantoche da ditadura, Marin denunciou uma “infiltração comunista” no jornalismo da TV Cultura.
Quem dirigia o departamento de jornalismo da emissora? Herzog.
Não demorou para que o diretor fosse preso e torturado até ser morto nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do II Exército. As instalações do DOI, em São Paulo, constituíam um campo de concentração onde se torturava, matava e se providenciava o sumiço de corpos de opositores.
O Brasil melhorou muito, e a esmagadora maioria da população não sente saudade da ditadura _viúvas e carpideiras são exceções.
A presença de Marin no Maracanã desonra a democracia e a nossa história.
Haverá quem diga: o protocolo prevê o mandachuva da CBF na tribuna.
Indago: por que se permitiu que um homem com essa trajetória viesse a presidir a entidade? O governo tinha cacife para barrá-lo, e não barrou.
Na noite luminosa do tetra na Copa das Confederações, os fantasmas do passado lembraram o período de trevas.