Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : junho 2013

A madrinha e o afilhado
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Mário Magalhães

A atriz Quitéria Chagas e o jornalista Ruy Castro

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Ruy Castro lançou nesta quinta-feira no Rio seu novo livro, “Morrer de prazer – Crônicas da vida por um fio” (editora Foz). Foi na nova Livraria Cultura, onde antigamente funcionava o Cine Vitória. Como no passado, o lançamento rolou no horário de almoço, começo da tarde. Também como acontecia, contou com uma madrinha. E que madrinha: a atriz Quitéria Chagas, leitora de Ruy.


Churrascaria Majórica interditada: não se pode elogiar
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Mário Magalhães

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Um bordão do saudoso programa humorístico “Planeta dos homens” lamentava: “Não se pode elogiar”.

Foi nele que pensei ao saber da interdição pela Vigilância Sanitária da churrascaria carioca onde se come a melhor picanha, a melhor linguiça, o melhor arroz branco e a melhor mousse de chocolate: a Majórica.

Noutro dia, rasguei elogios àquele estabelecimento aqui no blog.

A Majórica não foi fechada ontem porque a comida estava com gosto ruim ou mantinha alimentos com validade vencida, e sim porque havia obras na cozinha. Assim que terminar a reforma, a casa será novamente vistoriada.

Eis a nota oficial da prefeitura:

“Nesta quarta-feira, 12 de junho, a Vigilância Sanitária Municipal interditou totalmente a churrascaria Majórica, no Flamengo, por falta de higiene. A inspeção identificou que, após o incêndio que atingiu o estabelecimento, em janeiro de 2012, o local passou por recuperações estruturais somente nas áreas destinadas aos clientes. Nos setores internos – cozinha, depósito, vestiários, etc. – estavam sendo realizadas obras que colocavam em risco a higiene e qualidade dos alimentos. O estabelecimento foi autuado e interditado até que esteja de acordo com as normas sanitárias”.

“A Secretaria Municipal de Saúde recomenda que os consumidores fiquem atentos a irregularidades encontradas em qualquer estabelecimento, denunciando à Vigilância Sanitária, pelo telefone 1746.”


Deixa, que eu chuto! (“‘Se ingresso da Copa não funcionar, aceito chute no traseiro’, diz Valcke”)
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Mário Magalhães

Eis menos da metade da fila em forma de serpente, à espera de ingressos da Copa das Confederações, no Centro do Rio

Porta da salinha onde são entregues os ingressos foi fechada para impedir fotos

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Quando cheguei hoje às 11h39 à fila para a retirada de ingressos da Copa das Confederações, no Centro do Rio, ainda não havia lido a ótima entrevista que os colegas Rodrigo Mattos e Vinicius Konchinsk haviam feito aqui no UOL com Jérôme Valcke.

O secretário-geral da Fifa disse que aceita um chute no traseiro se não funcionar bem a distribuição de ingressos para a Copa do Mundo. Se o pontapé vale para o Mundial de 2014, vale também para a Copa das Confederações que começa depois de amanhã: deixa que eu chuto, sr. Valcke.

Pois o que eu testemunhei hoje encerra um ciclo vergonhoso.

Na terça-feira da semana passada, comprei no site da Fifa ingressos para a família assistir ao jogo entre Espanha e Taiti, na primeira fase do torneio.

Embora quatro bilhetes fossem para estudantes de 6, 12, 19 e 23 anos, tive de pagar inteira para todos eles. Foi a única opção oferecida pelo sistema.

O site propôs exclusivamente duas datas para pegar os tickets: 26 e 27 de junho. Ocorre que a partida será uma semana antes, dia 20. Só na quarta-feira (05/06) o site aceitou marcar a retirada para antes do jogo.

Como não há lugar para buscar os ingressos na zona sul, onde moro, preferi o Centro _as outras duas opções são o aeroporto do Galeão e a Cidade das Artes, na Barra da Tijuca.

Havia tempo suficiente, uma semana antes do confronto. E eu estava tranquilo porque no hotel Guanabara só pode apanhar ingresso quem agendou. Se a Fifa agenda, logo se supõe que será tranquilo.

Horas atrás, descobri que o local escolhido é uma salinha minúscula, mequetrefe. Pior, mal iluminada, sombria. Na minha chegada, estavam funcionando quatro guichês, informou do lado de fora uma pessoa a serviço da Fifa. Ao pegar a encomenda, funcionavam seis.

Só que na calçada da avenida Presidente Vargas havia centenas de consumidores em fila em formato de serpente. Todos já haviam pago. E foram obrigados a encarar uma espera descomunal _ela cairia para a metade do tempo, se operassem pelo menos 12 guichês.

Poderia ser pior: na fila, um homem contou que anteontem demorou duas horas e meia.

Quando apareceram equipes jornalísticas para acompanhar a fila, o pessoal do posto da Fifa fechou a cortina e a porta, impedindo que se visse a salinha improvisada. Transparência pouca é bobagem.

Retirei meus ingressos às 13h07, uma hora e 28 minutos depois.

O Procon pune tal absurdo, mas a Fifa virou dona do Brasil, cujas leis não se impõem à entidade.

Não ganhei os bilhetes de presente _paguei por eles.

Não paguei pouco, paguei caro.

Não fui eu quem escolheu o local para a retirada, mas a Fifa.

Nem quem escolheu a data _foi igualmente a Fifa, depois de ter proposto que os pegasse uma semana após o jogo.

Se vexame na distribuição de ingressos merece um chute no traseiro, que o secretário-geral da Fifa sinta-se devidamente chutado.


‘Notícia ajuda, não atrapalha a rotina de uma edição’
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Mário Magalhães

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Trecho da coluna de hoje de Elio Gaspari, “O futuro do jornalismo estava na Gávea”:

“Seu prestígio [do jornal inglês ‘The Guardian’] vem da qualidade de seus repórteres e do discernimento de seus editores. O que Greenwald fez foi buscar notícia e, graças à internet, recebeu-a, na Gávea. A internet não ameaça o jornalismo. Pelo contrário, facilita-o, desde que o repórter saiba o que deve procurar, faça-se respeitar por quem tem o que ele busca e haja nas Redações o entendimento de que notícia ajuda, não atrapalha a rotina de uma edição”.

Se, como Gaspari, você é jornalista, vale o replay:

“Seu prestígio [do jornal inglês ‘The Guardian’] vem da qualidade de seus repórteres e do discernimento de seus editores. O que Greenwald fez foi buscar notícia e, graças à internet, recebeu-a, na Gávea. A internet não ameaça o jornalismo. Pelo contrário, facilita-o, desde que o repórter saiba o que deve procurar, faça-se respeitar por quem tem o que ele busca e haja nas Redações o entendimento de que notícia ajuda, não atrapalha a rotina de uma edição”.

Se é estudante de jornalismo, e portanto não está contaminado pelo comodismo, não deixe de reler:

“Seu prestígio [do jornal inglês ‘The Guardian’] vem da qualidade de seus repórteres e do discernimento de seus editores. O que Greenwald fez foi buscar notícia e, graças à internet, recebeu-a, na Gávea. A internet não ameaça o jornalismo. Pelo contrário, facilita-o, desde que o repórter saiba o que deve procurar, faça-se respeitar por quem tem o que ele busca e haja nas Redações o entendimento de que notícia ajuda, não atrapalha a rotina de uma edição”.

A coluna de Elio Gaspari pode ser lida na íntegra clicando aqui.


Tarde de 12 de junho de 2013, quarta-feira: a três dias da Copa das Confederações, obras no Maracanã não têm fim
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Mário Magalhães

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Esqueçamos todas as promessas oficiais de prazos relativos à reforma do Maracanã: a três dias do início da Copa das Confederações e a quatro da “estreia” do estádio do Rio na competição, centenas de operários continuam trabalhando para concluir às pressas as obras infindáveis.

E não são tão pequenas assim: pouco antes das 14h desta quarta-feira, 12 de junho, viam-se do lado de fora do estádio betoneiras, caminhões, guindaste _tudo em funcionamento. Nem as bilheterias estão prontas, como mostra uma das fotos abaixo.

Brasil e Japão abrem o torneio no sábado, em Brasília. No dia seguinte, México e Itália se enfrentam no Maracanã, “arena” que no domingo retrasado recebeu o amistoso entre as seleções brasileira e inglesa.

O governo do Estado alega que falta pouco. Há controvérsia. Com certeza, é possível assegurar que as obras não estão terminadas.


Jacob Gorender (1923-2013), marxista até o fim
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Mário Magalhães

Jacob Gorender, revolucionário brasileiro – Foto Eduardo Knapp/Folhapress

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Morreu em São Paulo, aos 90 anos, o histórico dirigente comunista Jacob Gorender, como se lê aqui. Além de militante, o judeu baiano criado na Baixa dos Sapateiros também foi historiador relevante, deixando ao menos dois clássicos, “O escravismo colonial” e “Combate nas trevas”.

O velório começa às 8h desta terça no Cemitério Israelita de São Paulo. O sepultamento está marcado para as 10h, quando, conforme a tradição da esquerda, seu nome será pronunciado e seus companheiros gritarão “presente!”.

Que eu lembre, só conversei demoradamente com Gorender na manhã de 9 de fevereiro de 2004. Encontramo-nos na sala de sua casa, abarrotada de livros. Entrevistei-o na apuração da biografia de seu camarada Carlos Marighella (1911-69) _a transcrição somou 11.236 palavras. Voltei a lhe roubar o tempo, por telefone, para checar informações do passado distante.

Como quase sempre fazia nas entrevistas com veteranos revolucionários, no final perguntei como ele encarava o mundo contemporâneo. Gorender havia publicado um livro questionando alguns aspectos significativos do marxismo, essência da interpretação do mundo pelos comunistas (o nome vem do alemão Karl Marx, 1818-83).

Indaguei: “O senhor fala, analisa a questão do que resta do marxismo, se o marxismo sobrevive hoje plenamente, o marxismo sem utopia. Como o senhor se define hoje politicamente? Um socialista,um comunista,um marxista?”

Gorender respondeu: “Eu sou marxista. Mas um marxismo dentro dos termos desse livro. O mundo evoluiu, já estamos no século XXI, então eu penso que o marxismo deve corresponder a essas mudanças, mas a minha maneira de pensar e o mundo que eu ainda penso é ainda aquele mundo pelo menos prefigurado por Marx. Que não tem nada a ver com a União Soviética, muito diferente, absolutamente”.

Um epitáfio possível: Jacob Gorender, marxista até o fim.

E não custa dizer, em tempos tão nebulosos: foi-se um homem de bem.


PM gera clima de terror e desespero, afirma dirigente da OAB/RJ
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Mário Magalhães

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A ação da Polícia Militar do Rio ontem para reprimir manifestantes que protestavam contra o aumento do preço das passagens de ônibus foi marcada por truculência e gerou terror e desespero. Foi o que afirmou há pouco o advogado Marcelo Chalréo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da seção fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil.

Chalréo se pronunciou em artigo, publicado no site da entidade. Para saber mais sobre o ato de ontem, clique aqui, na cobertura do UOL.

Eis a íntegra do texto do advogado:

A polícia e a democracia

A democracia é regime que não só permite como estimula manifestações do povo, com maior ou menor radicalidade. É da sua essência. Saber conviver com os contrários, ainda que com os mais incisivos, é indicativo de sabedoria e respeito. Contudo, isso não tem sido visto com muita frequência nas ações da polícia, particularmente a militar, no que diz à chamada preservação da ordem e incolumidade pública. Em geral tem-se visto uma ação policial despreparada, ineficiente e profundamente desproporcional aos atos públicos que vêm ocorrendo em nosso Estado.

Episódios recentes, como os havidos na “aldeia” Maracanã, na desocupação de um conjunto do Minha Casa, Minha Vida em Nova Iguaçu, às portas do mesmo Maracanã semanas atrás e ontem, por conta de manifestação essencialmente de estudantes contra o aumento das passagens de ônibus, são testemunhos retumbantes de falta de capacidade, de ineficiência e de preparo técnico de parcela das forças de segurança do Estado, gerando, em decorrência, um clima terror e de desespero, atingindo centenas, milhares de pessoas impunemente.

Não se está aqui a defender atos de vandalismo ou agressões, mas o que se esperar de uma força policial que não dialoga, não conversa, não argumenta, que age truculentamente antes de quaisquer dessas iniciativas, provocando, em consequência, reação à ação desmedida e violenta?

É preciso que as máximas autoridades da segurança pública do nosso Estado revejam esses procedimentos, essas formas de agir, que busquem atuar de forma preventiva e persuasiva, pois falta talento e boas práticas de convivência às nossas polícias, ressalvadas exceções de praxe. O episódio ocorrido ontem à noite no Centro do Rio poderia ter resultado em uma tragédia – assim como outros recentes – absolutamente evitável houvesse mais diligência, competência e menos truculência.

*Marcelo Chalréo é presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ


Passeio pelas praias cariocas, com um gigante do fotojornalismo
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Mário Magalhães

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O piauiense José Medeiros (1921-90) foi um dos maiores talentos do fotojornalismo brasileiro em todos os tempos. Durante quinze anos, em meados do século passado, integrou o timaço de fotógrafos da revista “O Cruzeiro”. Como alguns colegas daquele escrete, migrou para o cinema. Eis um resumo de sua trajetória, no site do Instituto Moreira Salles.

O acervo fotográfico do instituto tem na obra de Zé Medeiros algumas das pepitas mais valiosas desse tesouro da história, como se pode constatar clicando aqui. Do portfólio de 50 fotografias online, selecionei 11 que mostram praias do Rio. Não formam um ensaio, pois foram feitas em momentos diferentes e não foram concebidas com esse propósito. As legendas são do IMS.

Só estive com Medeiros uma vez, em 1988 ou 89, entrevistando-o para um livro que Fernando Morais preparava sobre o magnata das comunicações Assis Chateaubriand, antigo patrão do fotógrafo. A biografia viria a se intitular “Chatô – O rei do Brasil” e se tornar um clássico.

Se minha memória traiçoeira não falha, a conversa ocorreu no apartamento do entrevistado, na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo. Ele tinha muito a contar. E contou.


Aroeira dá ideia a Bolsonaro
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Mário Magalhães

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Acima, a charge de Aroeira hoje no jornal “O Dia”.

Para quem está por fora: ontem de manhã o deputado Jair Bolsonaro explodiu fogos de artifício diante de um hotel da Barra da Tijuca. Vizinho do estabelecimento, o capitão disse protestar contra o barulho de um gerador de energia que tiraria o seu sono.

Mais tarde a seleção da Itália, que disputará a Copa das Confederações, chegou ao hotel para se hospedar.


Ainda os serviços no Rio: ‘Cliente paulista, garçom carioca’, por Antonio Prata
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Mário Magalhães

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Foi o tuiteiro Altamir quem lembrou, a propósito do artigo de Gilberto Scofield Jr. aqui republicado ontem, reclamando da (falta de) qualidade dos serviços no Rio: o cronista Antonio Prata havia tratado recentemente do atendimento em restaurantes cariocas. Saiu na “Folha de S. Paulo”, em fevereiro, como se pode ler aqui. No fundo, no fundo, desconfio que os dois quiseram dizer a mesma coisa.

Eis a crônica de Antonio:

Veja, aí estão eles, a bailar seu diabólico “pas de deux”: sentado, ao fundo do restaurante, o cliente paulista acena, assovia, agita os braços num agônico polichinelo; encostado à parede, marmóreo e impassível, o garçom carioca o ignora com redobrada atenção. O paulista estrebucha: “Amigô?!”, “Chefê?!”, “Parceirô?!”; o garçom boceja, tira um fiapo do ombro, olha pro lustre.

Eu disse “cliente paulista”, percebo a redundância: o paulista é sempre cliente. Sem querer estereo-tipar, mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas interações sociais terminam, 99% das vezes, diante da pergunta “débito ou crédito?”. Um ser que tem o “direito do consumidor” em tão alta conta que quase transformou um de seus maiores prosélitos em prefeito da capital. Como pode ele entender que o fato de estar pagando não garantirá a atenção do garçom carioca? Como pode o ignóbil paulista, nascido e criado na crua batalha entre burgueses e proletários, compreender o discreto charme da aristocracia?

Sim, meu caro paulista: o garçom carioca é antes de tudo um nobre. Um antigo membro da corte que esconde, por trás da carapinha entediada, do descaso e da gravata borboleta, saudades do imperador. Faz sentido. Para onde você acha que foram os condes, duques e viscondes no dia 16 de novembro de 1889 pela manhã? Voltaram a Portugal? Fugiram pros Açores? Fundaram um reino minúsculo, espécie de Liechtenstein ultramarino, lá pros lados de Nova Iguaçu? Nada disso: arrumaram emprego no Bar Lagoa e no Villarino, no Jobi e no Nova Capela, no Braseiro e no Fiorentina.

O pobre paulista, com sua ainda mais pobre visão hierárquica do mundo, imagina que os aristocratas ressentiram-se com a nova posição. De maneira nenhuma, pois se deixaram de bajular os príncipes e princesas do século 19, passaram a servir reis e rainhas do 20: levaram gim tônicas para Vinicius e caipirinhas para Sinatra, uísques para Tom e leites para Nelson, receberam gordas gorjetas de Orson Welles e autógrafos de Rockfeller; ainda hoje falam de futebol com Roberto Carlos e ouvem conselhos de João Gilberto. Continuam tão nobres quanto sempre foram, seu orgulho permanece intacto.

Até que chega esse paulista, esse homem bidimensional e sem poesia, de camisa polo, meia soquete e sapatênis, achando que o jacarezinho de sua Lacoste é um crachá universal, capaz de abrir todas as portas. Ah, paulishhhhta otááário, nenhum emblema preencherá o vazio que carregas no peito -pensa o garçom, antes de conduzi-lo à última mesa do restaurante, a caminho do banheiro, e ali esquecê-lo para todo o sempre.

Veja, veja como ele se debate, como se debaterá amanhã, depois de amanhã e até a Quarta-Feira de Cinzas, maldizendo a Guanabara, saudoso das várzeas do Tietê, onde a desigualdade é tão mais organizada: “Amigô, o bife era mal passado!”, “Chefê, a caipirinha de saquê era sem açúcar!”, “Ô, companheirô, faz meia hora que eu cheguei, dava pra ver um cardápio?!”. Acalme-se, conterrâneo. Acostume-se com sua existência plebeia. O garçom carioca não está aí para servi-lo, você é que foi ao restaurante para homenageá-lo. E quer saber? Ele tem toda a razão.