Lições de junho ou quem não chora não mama
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
A lição mais contundente das mobilizações populares de junho de 2013 reafirma o que ensinam os balanços sinceros da história: nenhum progresso no Brasil cai do céu, mas é conquistado.
Foi assim com a Abolição, a legislação trabalhista e a democracia. Enquanto se esperou que os de cima presenteassem, nada aconteceu. Quando os de baixo foram à luta buscar, arrancaram o que se dizia impossível.
Os prefeitos não asseguravam ser impossível reduzir as tarifas de ônibus, metrô, barcas e trens? Pois se viram obrigados a revogar os aumentos.
Os chefes do Executivo de Rio e São Paulo se opunham às CPIs para investigar a bandalheira no setor, mas elas saíram.
Em São Paulo, cancelou-se o reajuste dos pedágios.
Por todos os cantos, foram congelados os preços das passagens de ônibus intermunicipais e interestaduais.
A presidente da República correu para anunciar um pacote de R$ 50 bilhões para o transporte público.
Além de, com o plebiscito, sugerir a ampliação da participação dos eleitores nas reformas reivindicadas no asfalto, inclusive pelo pessoal do morro.
O Supremo Tribunal Federal, enfim, mandou prender um deputado acusado de gatunagem.
O Senado, que se sentava em cima da proposta de tipificar a corrupção como crime hediondo, mexeu-se.
Na Câmara, assistiu-se ao passo adiante para acabar com o voto secreto em processos de cassação de mandato.
A Casa sepultou a PEC 37, aspiração dos protestos.
E aprovou a destinação de 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde.
O próximo capítulo será a derrota da “cura gay”.
Se não fossem as passeatas, as PMs poderiam ter reeditado todos os dias o massacre perpetrado pela corporação paulista na quinta-feira retrasada. Ainda há abusos contra manifestantes pacíficos, mas poderia ser muito pior (outra coisa é o dever legal e legítimo de se defender de vândalos e proteger o patrimônio público).
Talvez nenhum feito tenha sido tão impactante como ver o Congresso trabalhar em dia de jogo da seleção.
As jornadas de junho foram tão pujantes que até a equipe do Felipão começou a jogar melhor. Será que as ruas não influenciaram o time em campo?