Skorpios: nome de inferninho, rosbife de responsa
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Descaradamente inspirado na série “Poesia numa hora dessas?”, do Verissimo, inauguro no blog o serviço “Comida numa hora dessas?”.
Sim, porque antes do jogo ou do protesto inexiste contraindicação ao prazer da boa mesa ou balcão. No caso das manifestações, é aconselhável dar tempo à digestão, pois bomba de gás lacrimogêneo de sobremesa pode cair mal (aqui no Rio, os artefatos não têm sido empregados exclusivamente contra vândalos, mas atingem manifestantes alheios à provocação e à baderna).
Como quase todo mundo sabe, jamais surgirá alguém que cozinhe como a(s) nossa(s) avó(s). Nem Adrià, Atala ou Troisgros. Pois a minha, uma cabocla paraense, era mestre em quitutes oriundos de todos os cantos do país. Não experimentei galinha ao molho pardo e vatapá melhores. Sem êxito, persigo por toda a vida um rosbife à altura do feito por ela.
Minha tia, que desgraça, esqueceu-se de que carne a mãe usava _só se lembra de que não era de primeira. A tia faz um ótimo rosbife, mas não supera o da minha avó. Desconfio que não apenas pelo julgamento da memória afetiva do menino que eu fui.
Faz um tempo que conheci um rosbife de responsa em Copacabana. Compro-o no Skorpios. Ao contrário do que o nome sugere, trata-se de um mercadinho, e não de um inferninho. Fica na rua Inhangá, 30.
Fatiado na hora, o rosbife do Skorpios (R$ 45 o quilo), é tenro, e não seco como tantos da praça. É bem condimentado, mas não exagera na pimenta. Como costuma ser segredo da casa, não cometo o abuso de perguntar que carne eles usam.
Não precisa: a cada fatia do rosbife do Skorpios, lembro da minha avó e dos pratos que ela fazia como ninguém.