Cara Dilma, esqueça as vaias dos mauricinhos de estádio, mas ouça a voz dos jovens nas ruas
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Cara presidente Dilma Rousseff _ou presidenta, como a senhora prefere, não briguemos por isso:
Tomo a liberdade de lhe escrever sobre as vaias que a senhora recebeu sábado em Brasília e as vaias que têm sido ouvidas fora dos estádios.
No seu lugar, eu não ganharia mais uma ruga ou um fio de cabelo branco com os apupos na abertura da Copa das Confederações. Sem generalizar, pois seria de uma leviandade imperdoável, o público dessa competição está repleto de mauricinhos capazes de pagar por ingressos tão caros.
Eles a vaiariam de qualquer maneira. Cultivam aversão à senhora e à sua história. Esqueça as apreciações de que a reprovação decorreu do seu desempenho nas pesquisas de opinião ou do vai e vem da economia. Com tomate em alta ou _como agora_ em baixa, a pateada sobreviria.
O que não significa que não tenha havido gente boa que se juntou aos mauricinhos, por frustração com governos que haviam prometido não gastar um centavo de dinheiro público com as “arenas” de futebol e torraram bilhões de reais, inclusive para construir um futuro elefante branco como esse aí da capital.
Triste foi vê-la na tribuna com gente que a despreza. Sim, falo de Joseph Blatter e José Maria Marin. Não duvido que eles tenham saboreado um imenso prazer de testemunhá-la em maus lençóis. Consideram que a senhora atrapalha os interesses da Fifa e da CBF. No seu lugar, eu tomaria essa antipatia como elogio.
Mas a senhora não precisava ter cumprimentado Marin tão efusivamente, como registrado em foto no blog do Juca Kfouri. Se o protocolo a obrigava a se postar ao lado do velho deputado da ditadura, a imagem efusiva foi constrangedora: a senhora, torturada tempos atrás por combater o bom combate, confraternizou com quem se vinculou para sempre ao assassinato de Vladimir Herzog na tortura.
Mas o que eu mais queria lhe dizer é que, assim como não daria ouvido aos mauricinhos alérgicos a qualquer conversa sobre desigualdade social e divisão de renda, eu prestaria atenção no que os jovens estão dizendo nas ruas _a propósito, ainda não escutei a senhora, veterana de protestos de outrora, comentando as manifestações.
Os jovens reclamam do aumento do preço das passagens, e têm razão: no Rio, como demonstrou o jornal “Extra”, desde 2007 os ônibus, as barcas, o metrô e os trens subiram acima da inflação.
A garotada reivindica mais: tarifa zero, o que implica rever o modelo de concessões públicas que faz a alegria dos concessionários e a desgraça de usuários e contribuintes.
Também pedem mais verbas para saúde e educação, como gritavam do lado de fora do estádio Mané Garrincha, enquanto a senhora era “aclamada” lá dentro. Debatem a escassez de moradias e outras mazelas nacionais, dessas que não merecem uma vaia dos mauricinhos.
Esses milhares de jovens, a esmagadora maioria empenhada em atos pacíficos, têm sido tratados com bombas de gás, spray de pimenta, cassetetes e as mortais balas de borracha.
Sim, pela PM do tucano Geraldo Alckmin. Mas também pela PM do peemedebista Sérgio Cabral, aliado da senhora. E igualmente pela polícia do seu correligionário petista, Agnelo Queiroz. O que a senhora tem a comentar sobre tanta covardia?
As vozes dos estudantes nas ruas clamam por mudanças mais profundas.
As vaias dos mauricinhos são para nada mudar.
Os jovens denunciam a repressão que tenta impedir o direito democrático de se manifestar.
Cara Dilma, ignore os mauricinhos de estádio, mas ouça a garotada.
O Brasil agradeceria.