Deixa, que eu chuto! (“‘Se ingresso da Copa não funcionar, aceito chute no traseiro’, diz Valcke”)
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Quando cheguei hoje às 11h39 à fila para a retirada de ingressos da Copa das Confederações, no Centro do Rio, ainda não havia lido a ótima entrevista que os colegas Rodrigo Mattos e Vinicius Konchinsk haviam feito aqui no UOL com Jérôme Valcke.
O secretário-geral da Fifa disse que aceita um chute no traseiro se não funcionar bem a distribuição de ingressos para a Copa do Mundo. Se o pontapé vale para o Mundial de 2014, vale também para a Copa das Confederações que começa depois de amanhã: deixa que eu chuto, sr. Valcke.
Pois o que eu testemunhei hoje encerra um ciclo vergonhoso.
Na terça-feira da semana passada, comprei no site da Fifa ingressos para a família assistir ao jogo entre Espanha e Taiti, na primeira fase do torneio.
Embora quatro bilhetes fossem para estudantes de 6, 12, 19 e 23 anos, tive de pagar inteira para todos eles. Foi a única opção oferecida pelo sistema.
O site propôs exclusivamente duas datas para pegar os tickets: 26 e 27 de junho. Ocorre que a partida será uma semana antes, dia 20. Só na quarta-feira (05/06) o site aceitou marcar a retirada para antes do jogo.
Como não há lugar para buscar os ingressos na zona sul, onde moro, preferi o Centro _as outras duas opções são o aeroporto do Galeão e a Cidade das Artes, na Barra da Tijuca.
Havia tempo suficiente, uma semana antes do confronto. E eu estava tranquilo porque no hotel Guanabara só pode apanhar ingresso quem agendou. Se a Fifa agenda, logo se supõe que será tranquilo.
Horas atrás, descobri que o local escolhido é uma salinha minúscula, mequetrefe. Pior, mal iluminada, sombria. Na minha chegada, estavam funcionando quatro guichês, informou do lado de fora uma pessoa a serviço da Fifa. Ao pegar a encomenda, funcionavam seis.
Só que na calçada da avenida Presidente Vargas havia centenas de consumidores em fila em formato de serpente. Todos já haviam pago. E foram obrigados a encarar uma espera descomunal _ela cairia para a metade do tempo, se operassem pelo menos 12 guichês.
Poderia ser pior: na fila, um homem contou que anteontem demorou duas horas e meia.
Quando apareceram equipes jornalísticas para acompanhar a fila, o pessoal do posto da Fifa fechou a cortina e a porta, impedindo que se visse a salinha improvisada. Transparência pouca é bobagem.
Retirei meus ingressos às 13h07, uma hora e 28 minutos depois.
O Procon pune tal absurdo, mas a Fifa virou dona do Brasil, cujas leis não se impõem à entidade.
Não ganhei os bilhetes de presente _paguei por eles.
Não paguei pouco, paguei caro.
Não fui eu quem escolheu o local para a retirada, mas a Fifa.
Nem quem escolheu a data _foi igualmente a Fifa, depois de ter proposto que os pegasse uma semana após o jogo.
Se vexame na distribuição de ingressos merece um chute no traseiro, que o secretário-geral da Fifa sinta-se devidamente chutado.