Blog do Mario Magalhaes

Jacob Gorender (1923-2013), marxista até o fim

Mário Magalhães

Jacob Gorender, revolucionário brasileiro – Foto Eduardo Knapp/Folhapress

( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )

Morreu em São Paulo, aos 90 anos, o histórico dirigente comunista Jacob Gorender, como se lê aqui. Além de militante, o judeu baiano criado na Baixa dos Sapateiros também foi historiador relevante, deixando ao menos dois clássicos, “O escravismo colonial” e “Combate nas trevas”.

O velório começa às 8h desta terça no Cemitério Israelita de São Paulo. O sepultamento está marcado para as 10h, quando, conforme a tradição da esquerda, seu nome será pronunciado e seus companheiros gritarão “presente!”.

Que eu lembre, só conversei demoradamente com Gorender na manhã de 9 de fevereiro de 2004. Encontramo-nos na sala de sua casa, abarrotada de livros. Entrevistei-o na apuração da biografia de seu camarada Carlos Marighella (1911-69) _a transcrição somou 11.236 palavras. Voltei a lhe roubar o tempo, por telefone, para checar informações do passado distante.

Como quase sempre fazia nas entrevistas com veteranos revolucionários, no final perguntei como ele encarava o mundo contemporâneo. Gorender havia publicado um livro questionando alguns aspectos significativos do marxismo, essência da interpretação do mundo pelos comunistas (o nome vem do alemão Karl Marx, 1818-83).

Indaguei: “O senhor fala, analisa a questão do que resta do marxismo, se o marxismo sobrevive hoje plenamente, o marxismo sem utopia. Como o senhor se define hoje politicamente? Um socialista,um comunista,um marxista?”

Gorender respondeu: “Eu sou marxista. Mas um marxismo dentro dos termos desse livro. O mundo evoluiu, já estamos no século XXI, então eu penso que o marxismo deve corresponder a essas mudanças, mas a minha maneira de pensar e o mundo que eu ainda penso é ainda aquele mundo pelo menos prefigurado por Marx. Que não tem nada a ver com a União Soviética, muito diferente, absolutamente”.

Um epitáfio possível: Jacob Gorender, marxista até o fim.

E não custa dizer, em tempos tão nebulosos: foi-se um homem de bem.