O poeta da Urca e o poeta de Copacabana
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Assim Ferreira Gullar abriu sua coluna dominical na “Folha”: “Ao chegar à caixa do supermercado, a moça que ali atendia me falou: ‘É verdade que o senhor vai parar de escrever poesia? Não faça isso, poeta, por favor!’. Não acreditei no que ouvira. Aquela moça, que mal conheço e passa o dia a cobrar pelas compras dos fregueses, sabe quem sou eu e lamenta que eu não vá mais escrever poesia! ‘Mas quem lhe disse isso’, perguntei, e ela: ‘Li naquele jornalzinho que o pessoal distribui de graça’.”
“Na boca dos vizinhos” é uma bela crônica, com esta reflexão: “Escrever ou não escrever poesia não é coisa que se decida”. A coluna pode ser lida aqui.
Na mesma edição, o jornal ofereceu um inspirado perfil do poeta Armando Freitas Filho. Intitulada “O dever do poeta”, a reportagem de Francesca Angiolillo colheu depoimentos como este: “Desde que comecei a escrever publicamente, eu sou um lento escritor. Agora, um escritor de todo dia. Comigo não tem essa coisa de esperar a poesia chegar: eu vou de encontro a ela. Se ela chegar, estou pronto para escrevinhá-la. Se ela não chegar, eu estou sempre em contato com ela, através da leitura, porque fui e sou um leitor compulsivo”.
De certo modo, duas relações distintas com a dita inspiração.
Com o perfil, a “Ilustríssima” trouxe quatro poemas inéditos de Armando.
Carioca, Armando Freitas Filho, 73, cresceu e mora na Urca.
O maranhense Ferreira Gullar, 82, passou boa parte da vida aqui no Rio, mais precisamente em Copacabana, onde ainda vive.
Ninguém pode dizer que o Rio não é uma cidade inspiradora.