‘Apartheid’ impera em estádios da seleção
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Neste domingo na Arena do Grêmio, como no novo Maracanã na semana passada, imperou a desgraça do tom monocolor: o público que frequenta os estádios onde a seleção joga não tem a cara dos brasileiros, povo mestiço que somos. Parece uma plateia nórdica, de tão branca, e não oriunda da combinação predominante de índios, africanos e europeus que constitui nossa raiz.
Certeiro como sempre, o Juca Kfouri já havia chamado a atenção para a aberração da audiência de elite na partida no Rio, contra a Inglaterra. A segregação racial se repetiu hoje na boa vitória de 3 a 0 sobre a França, em Porto Alegre.
A numerosa imigração portuguesa, italiana e alemã no Rio Grande do Sul criou a falsa ideia de que se trata de uma terra de brancos. Errado: a escravidão foi vasta no Estado. Os farrapos contaram com um batalhão de lanceiros negros na guerra de meados do século XIX. Porto Alegre já teve um prefeito mulato, Alceu Collares. Ronaldinho Gaúcho é o maior jogador revelado pelo Estado em todos os tempos. No começo dos anos 1800, metade dos milhares de moradores da freguesia de Pelotas era formada por escravos, que desembarcavam de navios negreiros no porto de Rio Grande. Não é à toa que o Carnaval desses dois municípios _Pelotas e Rio Grande_ com grande presença negra é dos mais animados da região Sul do Brasil.
Nada disso se viu na arena gremista. É evidente que a cor da torcida presente decorre do preço astronômico dos ingressos, no país onde a cor da pele interfere na renda, como comprovam as estatísticas.
Também é notório que esse ‘apartheid’ não é novidade nas partidas da seleção, sempre com bilhetes mais caros. Mas a brancura dos frequentadores parece ter se acentuado com os novos estádios.
Tecer essas observações seria incentivar o racismo?
Ou racismo é fingir que não se vê o que mostram as imagens na TV e na internet?
É normal o que ocorre? É assim que se constrói um país decente?