Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : junho 2013

A cicatriz de Marilyn, por Bert Stern (1929-2013)
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Mário Magalhães

( Para seguir o blog no Twitter: mariomagalhaes_ )

Durante três dias, na última semana de junho de 1962, Bert Stern fotografou Marilyn Monroe para um ensaio da “Vogue”. A atriz morreria logo depois, em agosto.

Anteontem, foi a vez de Stern partir. As imagens de uma das mulheres mais desejadas de todos os tempos foram produzidas em sessões num hotel de Los Angeles. Por pudor, a revista vetaria os retratos que mostram a cicatriz de uma cirurgia de vesícula.

A fotogaleria abaixo saiu no “El País”, que publicou uma reportagem sobre Bert Stern.


‘Jesus! Que final!’
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Mário Magalhães

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Eis as primeiras páginas de hoje dos quatro principais jornais esportivos da Espanha, pescadas no site do “Marca”.

Domingo, na final da Copa das Confederações, o Brasil enfrenta no Maracanã os campeões mundiais e bicampeões europeus.

 


E se os mortos da Maré fossem do Leblon?
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Mário Magalhães

“A bala na favela não é de borracha”

 

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Foi nesta semana, mas, a considerar o noticiário, parece que ocorreu no século retrasado: depois de um sargento do Bope ser morto por traficantes, a PM invadiu uma favela do complexo da Maré, aqui no Rio, e matou nove pessoas. Duas não tinham antecedentes criminais, como um garoto de 16 anos. O governo prometeu investigar as circunstâncias.

Se os dois mortos sem vinculação comprovada com a bandidagem fossem moradores do Leblon, será que a cobertura jornalística teria se extinguido tão rápido?

Será que as autoridades e o jornalismo falariam em “excessos”, como agora, ou em possíveis “crimes”?

Quantos editoriais não haveria nos jornais, nas TVs, nas rádios e na internet?

Quantos bambambãs já não estariam alardeando a existência de um “Estado policial” no Brasil?

Informados pelos meios de comunicação, quantos milhares de estudantes não promoveriam greves exigindo o esclarecimento dos fatos?

Quantas senhoras não lançariam campanhas com o mote “Podia ser seu filho”?

E as passeatas, não seriam talvez maiores do que as que tomaram as ruas na semana passada?

Quantas denúncias de extermínio haveria por minuto?

Seriam publicadas reportagens falando em um “menor” morto, como li, ou ele teria nome, idade, sua história contada?

Quanto tempo demoraria para que tudo fosse esquecido, sobretudo a cobrança por apuração?

Mas o garoto era da Maré, e não do Leblon.


Espanha chega ‘aos peidos’ contra o Brasil, que vai acelerar o jogo
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Mário Magalhães

Como se diz no Ceará, onde a Espanha bateu a Itália nos pênaltis e se classificou para a final da Copa das Confederações, o time de Xavi e Iniesta está “aos peidos”.

Não quer dizer que esbanja flatulências, mas que se encontra exausto. Calorão, umidade, o de sempre em Fortaleza, em uma partida duríssima.

Felipão e Parreira, dois cabras espertos, vão acelerar o jogo domingo no Maracanã. Del Bosque, pelo contrário, tentará cadenciá-lo.

O Brasil partirá com a marcação pressão que surpreendeu a Itália na fase classificatória.

E a Espanha tentará não perder a bola, para não ter que correr atrás dela.

O Brasil se desgastou só no tempo normal, um dia antes. A Espanha foi até as penalidades, um dia depois. E está mais longe do Rio do que, em Belo Horizonte, estavam os brasileiros.

Com Brasil x Espanha, ganha o futebol. Vem jogão por aí!


Qua-qua-qua-qua-quá! Conta outra, Pelé!
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Mário Magalhães

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E o pessoal ainda reclama do Pelé.

Ingratos!

Quem conseguiria arrancar tantas gargalhadas como ele?

A última do nosso craque (dos campos): não disputou a Copa de 74 porque se opunha à ditadura.

Evidentemente, o motivo não teria sido, como sempre se soube, com fartura de testemunhos, a recusa da cartolagem em lhe pagar o que ele julgava justo para ir ao Mundial da Alemanha. Atitude legítima, diga-se.

Então, Pelé não conversou por telefone com o ditador Emilio Garrastazu Médici em 1970, em seguida ao tri, numa bajulação constrangedora.

Nem afirmou a um jornal uruguaio que não existia tortura no Brasil.

Agora, inventa que o Parreira era do Exército.

Pelé, o herói da resistência! Ainda acaba anistiado…

Vou pedir o nariz de palhaço a essa senhora fotografada pelo Marcelo de Jesus. Porque o Pelé deve achar mesmo que somos todos palhaços, quando quem faz graça é ele.

A entrevista do ex-jogador e ex-ministro ao UOL pode ser assistida aqui.


Lições de junho ou quem não chora não mama
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Mário Magalhães

Na história do Brasil, nenhum progresso caiu do céu; todos foram conquistados

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A lição mais contundente das mobilizações populares de junho de 2013 reafirma o que ensinam os balanços sinceros da história: nenhum progresso no Brasil cai do céu, mas é conquistado.

Foi assim com a Abolição, a legislação trabalhista e a democracia. Enquanto se esperou que os de cima presenteassem, nada aconteceu. Quando os de baixo foram à luta buscar, arrancaram o que se dizia impossível.

Os prefeitos não asseguravam ser impossível reduzir as tarifas de ônibus, metrô, barcas e trens? Pois se viram obrigados a revogar os aumentos.

Os chefes do Executivo de Rio e São Paulo se opunham às CPIs para investigar a bandalheira no setor, mas elas saíram.

Em São Paulo, cancelou-se o reajuste dos pedágios.

Por todos os cantos, foram congelados os preços das passagens de ônibus intermunicipais e interestaduais.

A presidente da República correu para anunciar um pacote de R$ 50 bilhões para o transporte público.

Além de, com o plebiscito, sugerir a ampliação da participação dos eleitores nas reformas reivindicadas no asfalto, inclusive pelo pessoal do morro.

O Supremo Tribunal Federal, enfim, mandou prender um deputado acusado de gatunagem.

O Senado, que se sentava em cima da proposta de tipificar a corrupção como crime hediondo, mexeu-se.

Na Câmara, assistiu-se ao passo adiante para acabar com o voto secreto em processos de cassação de mandato.

A Casa sepultou a PEC 37, aspiração dos protestos.

E aprovou a destinação de 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde.

O próximo capítulo será a derrota da “cura gay”.

Se não fossem as passeatas, as PMs poderiam ter reeditado todos os dias o massacre perpetrado pela corporação paulista na quinta-feira retrasada. Ainda há abusos contra manifestantes pacíficos, mas poderia ser muito pior (outra coisa é o dever legal e legítimo de se defender de vândalos e proteger o patrimônio público).

Talvez nenhum feito tenha sido tão impactante como ver o Congresso trabalhar em dia de jogo da seleção.

As jornadas de junho foram tão pujantes que até a equipe do Felipão começou a jogar melhor. Será que as ruas não influenciaram o time em campo?


Mesmo se levar um chocolate na final, seleção sairá da Copa das Confederações mais forte do que entrou
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Mário Magalhães

Bode expiatório em 2010, Júlio César confirma que é um magnífico goleiro – Foto Flávio Florido/UOL

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A seleção pode tanto dar quanto levar um chocolate na final do domingo, mas o balanço essencial da equipe na Copa das Confederações já está claro: sai mais forte do que entrou.

Para quem não conseguia superar adversários parrudos, o progresso foi expressivo. Bateu a Itália (jogando melhor, mas se beneficiando da arbitragem camarada) e o Uruguai (com atuação mediana e uma garra contagiante). Se não voltou a meter medo, como em outros tempos, já se faz respeitar novamente.

A principal conquista é coletiva, com um time com cara de time, montado por dois técnicos talentosos, Felipão e Parreira, goste-se ou não do estilo deles.

Há também brilhos individuais. Com a camisa nacional, Neymar passou a desequilibrar. Paulinho confirma que é capaz de render pelo Brasil o que rendia no Corinthians. Júlio César, magnífico goleiro, bode expiatório pelo fracasso em 2010, pegou pênalti.

Como contraponto, David Luiz reforça dúvidas sobre quem deve acompanhar Thiago Silva. Oscar, que começou muito bem, foi sumindo.

Se o Brasil conquistar a Copa das Confederações, começará um oba-oba para 2014. Erro, pois falta muito para estar à altura de triunfar no Mundial.

Se perder, vão pulular os comentários de que o time não vale nada, outro equívoco.

A seleção já era um dos quatro favoritos para a Copa do Mundo, ao lado de Espanha, Alemanha e Argentina. Consolidou essa condição.

Vou torcer hoje por Iniesta e companheiros por dois motivos: estético, pois jogam o futebol mais encantador do planeta; e para ver como nos saímos contra eles.

Por mais que valha um caneco, contudo, a batalha dominical contra italianos ou espanhóis será um grande ensaio para os grandes confrontos do ano que vem. Falta um ano para a guerra.


Na Rádio Batuta, goleada de cabeça
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Mário Magalhães

Ótimo mesa-redonda tem muitos gols de cabeça e algumas cabeçadas tipo Zidane contra Materazzi

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Está no ar uma ótima mesa-redonda de futebol, dedicada ao bate-bola e, melhor ainda, ao bate-boca sobre a Copa das Confederações. O programa se chama “Gol de cabeça” e está no ar na Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles. Pode ser ouvido aqui. Já foram ao ar três edições.

Na coordenação, o jornalista Luiz Fernando Vianna faz o papel de Xavi Hernandez, distribuindo o jogo, e de Materazzi contra Zidane, provocando. Participam seu colega Fernando de Barros e Silva, o historiador Marcos Alvito, o ensaísta Francisco Bosco e o artista plástico e escritor Nuno Ramos.

No terceiro programa, Fernando diz que o zagueiro David Luiz “é abaixo da crítica”. Nuno, que “Neymar estava com o imaginário muito preso” no Santos. Francisco, que pensa em ir às passeatas com o cartaz “Por um meio-campo melhor”. E Alvito brinca que eles só teriam quatro ouvintes.

O pessoal honra o título da mesa-redonda, mas não promove uma masturbação sociológica coletiva: discutem futebol-futebol. Como na fórmula dos velhos debates do rádio, além de muitos golaços de cabeça, há caneladas e botinadas. Programão!

 


Já não se faz ‘passeata de direita’ como antigamente
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Mário Magalhães

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Como não havia tanta gente assim, lá pelo meio da passeata de ontem deu para trocar mais um dedo de prosa com Maicon Freitas, 31 anos, o combativo líder da manifestação carioca.

“Você sabe o que foi o CCC?”, perguntei.

“Não tenho a menor ideia”, ele respondeu, e eu acreditei.

“Comando de Caça aos Comunistas”, esclareci, evocando o grupo paramilitar de extrema direita de certa fama nos anos 1960.

Técnico de segurança do trabalho, Maicon capitanea a UCC, União Contra a Corrupção – Brasil. A organização recém-nascida se autoproclama “neutra, nem de direita nem de esquerda”. Veta estandartes de partidos políticos nos protestos. “Eles querem queimar nossas bandeiras”, reclama Maicon, sem informar quando algum ataque dessa natureza teria ocorrido.

Indagado sobre a acusação de fascistas, assestada nas redes sociais contra grupos similares ao seu, ele retrucou: “Esse discurso não é válido agora, hoje só vai criar inimizade e intriga”. Maicon advoga “redução da carga tributária” e rejeita a contratação de médicos cubanos para socorrer miseráveis nos rincões onde os colegas brasileiros não se dispõem a atender: “A gente não precisa de médicos importados”.

Fustiga o Movimento Passe Livre, de esquerda: “A gente ficou triste porque eles disseram que não iriam chamar mais manifestações, porque a tarifa tinha baixado”. Nem precisava, porém Maicon confirmou, com o rosto pintado com listras verdes e amarelas: “Diria que, sim, sou oposição à presidente”.

‘Fora, Dilma’

Ao seu redor, os manifestantes exibiam a faixa “Fora, Dilma; fora, Cabral; é tudo igual” e o cartaz “Cadê a nossa dignidade, Dilma?”. Outro fazia referência à série “Game of Thrones”: “Dilma, winter is coming” (“Dilma, o inverno está chegando”).

Logo a multidão gritaria com fervor: “Ô, Dilma, vai se foder, o brasileiro não precisa de você!”. E “Ei, Dilma, vai tomar no cu!”. Àquela hora, ignoravam-se as propostas que a presidente lançava em Brasília.

Antes, às 17h15, Maicon Freitas anunciara, colado à igreja da Candelária: “Estamos esperando a massa chegar”. Pretendia percorrer o trajeto até a prefeitura, na Cidade Nova. Como a massa chegou num contingente modesto, fecharam a avenida Rio Branco, rumo à Cinelândia.

A Polícia Militar avaliou-a em 2.000 pessoas. A UCC, em 5.000 a 10 mil. Calculei-a, no momento de maior concentração, no máximo em 4.000. Antes da semana passada, seria expressivo. Comparando com os mais de 100 mil da segunda-feira retrasada e os estimados 300 mil da quinta, configurou um retrocesso.

O principal motivo foi o boicote promovido nas redes sociais. A convocação para o protesto na Candelária partiu de uma comunidade do Facebook denominada Nova Era Brasileira, que assim se resume: “Não somos um partido, não somos uma religião, somos movidos por ideia e reivindicação. Somos brasileiros! Vamos pra rua!”. “Nova Era Brasileira de cu é rola… Se liga, galera”, reagiu um tuiteiro. No Facebook, os organizadores foram denunciados como “fascistas” e “de direita”. Moveu-se uma campanha pelo forfait na passeata.

Não encontrei um só representante da Nova Era Brasileira, possivelmente ausente por receio de confronto. Quem coordenou o ato foi a União Contra a Corrupção. Eis uma novidade em relação a uma semana antes: ontem havia comando, com discursos e ordens.

Alguns jovens de comportamento temerário saíram do Facebook e arriscaram uma manifestação-contra-a-manifestação. Identificado como Lauro, estudante de filosofia na Universidade de Brasília, um deles berrava: “Fascista, cabo eleitoral do Bolsonaro!”. Quem não conseguisse ouvi-lo, poderia ler o cartaz que ele carregava: “A verdade é dura: a classe média apoiou a ditadura – Nacionalismo = Fascismo”, menção a direitistas que em São Paulo se qualificam como “nacionalistas”. Até a esquina em que acompanhei Lauro, ninguém lhe dera pelota ou um cascudo.

Outros quatro universitários, mais sóbrios ou menos ousados, empunharam cartazes. Um dos garotos se opunha ao veto a símbolos de partidos políticos: “Apartidarismo por mais democracia ≠ Antipartidarismo fascista”.

‘Lula mensaleiro’

Houve mais um obstáculo notório para a mobilização: a falta de uma reivindicação unitária como a revogação do aumento das passagens dos transportes públicos _sete dias antes, eu pagara R$ 3,50 no metrô; ontem, com o recuo do governador Sergio Cabral, desembolsei R$ 3,20.

No dia 17 de junho, o pessoal conclamava: “Vem, vem, vem pra rua vem, contra o aumento!”.  Ontem, “Vem, vem, vem pra rua, vem…”, e concluía aí. A comoção com a PEC 37, que retira poderes investigatórios do Ministério Público, é ilusão difundida por quem não frequenta o asfalto. A bronca existe, mas não comove grandes torcidas.

Com os partidos de esquerda, sindicatos, entidades estudantis, movimentos sociais e a imensa geração do Facebook distantes, o “protesto da direita” teria menos constrangimentos para desfraldar sua agenda, mas não houve muitas semelhanças com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, de março de 1964.  Nem a faixa golpista das vivandeiras, flagrada noutro dia, “Intervenção militar já”. O mote comum com meio século atrás foi o combate à corrupção.

“Pula, sai do chão, quem não quer corrupção!”, bradaram. Bem como: “Ordem e Progresso, faxina no Congresso!”; “1, 2, 3, 4, 5, mil, ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”; “Puta que pariu, vamos fazer uma limpeza no Brasil!”. Um protético desfilou fantasiado de Batman, de acordo com ele “um símbolo contra a corrupção”.

Gritos e cartazes apontavam para correligionários petistas da presidente: “Lula mensaleiro, kd o meu dinheiro?”; “Cadeia aos mensaleiros”. E para aliados da estirpe de Renan Calheiros, José Sarney e Edison Lobão. Tudo ao ritmo do mantra “Sem partido! Sem partido!”.

Se a União Contra a Corrupção é uma sigla de direita, como aparenta, já não se fazem passeatas de direita como no passado. Porque atacar Edison Lobão seria um sacrilégio para reacionários de escol. Mais do que um parceiro da ditadura instaurada em 1964, o ministro do governo da ex-guerrilheira Dilma Rousseff foi muito próximo do aparato repressivo mais sangrento.

De direita ou não, a manifestação não teria como barrar bandeiras de caráter social, típicas da tradição da esquerda. Elas não faltaram: “Diga não à privatização dos hospitais públicos”; “Não nos machuque, nós não temos hospitais”; “Brasil, vamo’acordar, o professor vale mais que o Neymar”.

Também não é de direita se esgoelar por “Revolução! Revolução!”, que no contexto pode ser qualquer coisa. Nem tratar o regime de 1964 a 85 como um mal: “A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura!”. Ou erguer o abre-alas “Não ao voto obrigatório”. E espalhar diatribes contra o pastor Feliciano. No fim do cortejo, um homem acenava com um pôster da capa da revista “Carta Capital”: “Parem de subestimar o povo – Ninguém controla a rua”. Ainda que os organizadores preferissem outras publicações, eles não tinham controle sobre quem atendeu ao apelo para protestar.

‘Nas trevas da confusão’

Na antevéspera do golpe de Estado contra o governo constitucional do presidente João Goulart, a marcha de direita em São Paulo arrastou centenas de milhares de opositores. Passeatas como a de ontem não derrubam nem síndico de prédio, embora possam enfraquecer candidatos, como Dilma, nas eleições do ano que vem. Antes, liam-se inscrições tipo “Comunismo, não; democracia, sim”. Agora, só as viúvas mais chorosas da Guerra Fria alertam contra o “perigo vermelho”.

Assim como se disseminou uma compreensível alergia às atuais agremiações políticas, arengas fascistoides clássicas teriam dificuldade para se criar. Em artigo recém-publicado no site da minúscula Frente Integralista Brasileira, um dirigente do grupo direitista escreve: “Os protestos evoluíram do oportunismo, das utopias irracionais marxistas e das infantis reclamações por passes livres para a adesão em massa de milhões de pessoas indignadas com o governo em todo o Brasil”.

A “reclamação infantil” desencadeou manifestações de envergadura histórica. Os neointegralistas e sua pregação do ódio seriam capazes de estimular quantos gatos pingados a tomarem as ruas?

Na década de 1930, os nazifascistas tupiniquins distribuíam um panfleto propagandeando seu líder: “Nas trevas da confusão, a luz de uma esperança. Para presidente da República, Plínio Salgado”.

Hoje, todos os principais candidatos ao Planalto em 2014, mais ou menos chamuscados pelas mobilizações em curso, foram opositores da ditadura inaugurada com a queda de Jango.

Na Cinelândia, li em um serviço noticioso da internet a informação de que os líderes do movimento haviam tentado impor (sem sucesso) aos manifestantes uma saudação neonazista, com os braços estendidos, e a palavra de ordem “dias de luta, dias de glória”.

Não vi. Talvez não tenham sido os líderes, que eu observei quase todo o tempo _não percebi skinheads neonazis por lá. E “Dias de luta, dias de glória” é título e verso de uma música da banda Charlie Brown Jr.

De fato, já não se faz “passeata de direita” como antigamente.

P.S.: dispensando verbetes enciclopédicos sobre “esquerda” e “direita”, assinalo: quem diz que esses conceitos não fazem mais sentido já fez sua escolha, tão legítima quanto a outra _é de direita.