Blog do Mario Magalhaes

Obrigação do Maracanã: anunciar no alto-falante a presença de Marin

Mário Magalhães

Vladimir Herzog, em cena forjada pelos assassinos que o mataram na tortura em 1975

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A tecnologia de ponta do novo Maracanã com certeza inclui o sistema de som. Muito melhor do que aquele, ainda longe do high tech contemporâneo, do qual no passado soavam os bordões “A Suderj informa” e, quando eu era criança, “A Adeg informa”.

Evidentemente, essa maravilha sonora anunciará neste domingo a presença do presidente da Confederação Brasileira de Futebol e do Comitê Organizador Local da Copa, o eminente senhor José Maria Marin. Ele será uma figura ilustre nas tribunas, para assistir ao amistoso Brasil x Inglaterra.

Reconhecimento merecido, afinal foi a CBF que capitaneou a campanha nacional para sediar o Mundial. Ricardo Teixeira ainda era o cabeça da entidade, contudo Marin é seu legítimo sucessor.

Claro que nenhum medo de apupos gerará censura do cerimonial do governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 2007, a despeito de se saber desde o ensaio da véspera que Lula seria mal recebido no Maracanã, o nome do então presidente foi pronunciado pelo locutor, antes das vaias consagradoras na abertura dos Jogos Pan-Americanos.

O governador Sérgio Cabral estará no estádio, lado a lado com Marin. Ironia da história: o ainda jovem Serginho militou no Partido Comunista Brasileiro. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi preso e assassinado na tortura devido aos seus vínculos com a mesma agremiação, o PCB.

Pouco mais de duas semanas antes, o à época deputado estadual Marin atacou em discurso na Assembleia a “comunização” do jornalismo da TV Cultura paulista. Quem dirigia o jornalismo da Cultura era Herzog. Marin integrava a Arena, partido da ditadura instaurada em 1964.

João Saldanha, outro antigo camarada de Herzog e Cabral, costumava dizer que a prova dos nove da popularidade de alguém era ter o nome proferido no microfone do Maracanã.

Com Marin, não está em questão popularidade. Apenas a observação do protocolo. Eventual silêncio sobre sua presença significaria submeter o estádio, patrimônio público, aos interesses privados de um cartola que talvez prefira passar despercebido em meio à multidão.