Grande notícia: está de volta ‘Anos rebeldes’, a melhor minissérie da TV brasileira
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Alvíssaras, que a novidade merece! O canal pago Viva começou ontem a passar a reprise de “Anos rebeldes”, a melhor minissérie já produzida no Brasil. O programa vai ao ar de segunda a sexta, das 23h10 à meia-noite. Quem viu sabe do que falo. Para quem não viu, seguem alguns toques.
Exibida em 1992, “Anos rebeldes” foi das raríssimas obras televisivas que, ao evocar o passado, as décadas de 1960 e 70, influenciou o presente. Estimulados pelo exemplo dos militantes de antanho, multidões de jovens saíram às ruas no princípio dos anos 1990 reivindicando o impeachment de Fernando Collor de Mello. O presidente logo foi afastado constitucionalmente do cargo.
A Globo chegou a lançar uma caixa com três DVDs, condensando a minissérie em 11 horas e 20 minutos. Agora, o Viva a mostra na íntegra _até o início do primeiro capítulo é diferente do da versão editada, constatou-se ontem.
Todo fim de noite, ecoará a mais sensacional trilha sonora de uma minissérie, uma tremenda seleção das antigas. A começar pela música de abertura, “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso _assista clicando na imagem acima. (Até onde a memória alcança, a trilha de telenovela de que mais gostei foi a de “Gabriela”, em 1975.) Será que exagero? Então ouça aqui o som que toca em “Anos rebeldes”. Não diga que não alertei: vicia.
O autor do roteiro é Gilberto Braga, o legítimo sucessor de Janete Clair, e isso é um elogio tão justo quanto descomunal. Ele escreveu a minissérie com Sérgio Marques. O diretor geral, Denis Carvalho, dividiu o trabalho com Ivan Zettel e, grife que exala talento, Silvio Tendler.
Cláudia Abreu ofereceu sua mais notável interpretação e viveu um dos mais comoventes personagens da televisão nacional em todos os tempos: Heloísa, a garota rica e fútil que descobre o mundo real e se torna guerrilheira.
Ivan Cândido, como o comerciante lacerdista (fã de Carlos Lacerda, o governador da golpista da Guanabara em 1964) e Geraldo Del Rey (1930-93), como um jornalista comunista, marcaram para sempre a dramaturgia televisiva.
A nova exibição permite o reencontro com grandes atores que já partiram, como Francisco Milani (1936-2005), Georgia Gomide (1937-2011), Castro Gonzaga (1918-2007) e Lourdes Mayer (1922-98).
E retrocede até o alvorecer de artistas como Marcelo Serrado, muito antes de arrebentar no teatro, como em “No retrovisor”, e na TV, transformado no mordomo Crô.
Uma curiosidade: o papel de Carlos Zara (1930-2002) reencarna o editor Ênio Silveira (1925-96), da Civilização Brasileira.
Outra: Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) dá vida a um médico inspirado no jornalista Joaquim Câmara Ferreira, assassinado na tortura em 1970.
Um alerta: ao contrário do que se especulou na época, o guerrilheiro vivido por Cássio Gabus Mendes não tem o DNA de José Dirceu de Oliveira e Silva, mas de várias pessoas. Se atuou em ações armadas contra a ditadura (1964-85), o futuro ministro José Dirceu teve ação discreta. O João Alfredo de Cássio participa de um sequestro político de diplomata estrangeiro, enquanto o Dirceu de carne e osso foi solto na captura do embaixador dos Estados Unidos, em 1969. Durante o sequestro de “Anos rebeldes”, o comportamento de João Alfredo se assemelha ao do guerrilheiro Carlos Lamarca _morto em 1971_ em episódio semelhante.
Último toque: minimize os exageros de Cássio Gabus Mendes nos primeiros capítulos. Ele tinha 31 anos, em 1992, e seu personagem ainda era um estudante do ensino médio. Era um desafio complicado. Cássio cresce pouco a pouco, proporcionando momentos soberbos de ator.
Se não bastasse o brilhantismo artístico, “Anos rebeldes” regressa em tempos de Comissão da Verdade.
Eita minissérie bem-vinda!