Blog do Mario Magalhaes

Estética do frio

Mário Magalhães

O catador Ricardo, quando os termômetros marcavam 8 graus hoje de manhã, em Pelotas (RS)

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Em Pelotas (RS)

O trabalhador da foto acima se chama Ricardo, tem 43 anos e é catador de garrafas pet. Topei com ele e sua bicicleta às 9h15 de hoje em Pelotas, a pouco mais de uma hora _de carro_ do Uruguai, quando o sol enganador não impedia os termômetros de marcarem 8 graus. De madrugada deve ter feito 3 graus, caso tenha se confirmado a previsão.

Ricardo tinha começado a trabalhar à meia-noite, recolhendo material nos sacos de lixo nas calçadas. Ganha R$ 5, R$ 6 em média por dia. Se a sorte o acode, fatura “oito pila”, como me contou.

O tempo virou pelo meio-dia de ontem, quando uma ventania e um temporal inspirados nos romances de Gabriel García Márquez castigaram a cidade. Em um município vizinho, onde visitei uma fábrica de doces, faltou luz, porque o vendaval derrubou dois postes de energia.

Eu caminhava pelos casarões do século 19 em torno da praça central de Pelotas, o mais espetacular conjunto arquitetônico neoclássico do Sul do país, no instante em que o tempo virou. Como soube depois pelos meteorologistas, a temperatura em 60 minutos despencou de 25 para 14 graus. A queda de 11 graus me surpreendeu com roupa leve, e acabei tendo de comprar um agasalho às pressas.

A expectativa é que amanhã faça zero grau. No sábado, 1 negativo.

Pela segunda divisão do Campeonato Gaúcho, o Brasil de Pelotas recebe hoje à noite o São Paulo, de Rio Grande, no primeiro dos dois jogos que valem um lugar no Gauchão de 2014.

E o compositor Kleiton Ramil lança um livro. Kleiton é irmão de Vitor Ramil, também compositor, músico, cantor e escritor. Foi Vitor quem elaborou a sacada da “estética do frio”. Deu-se conta de que a arte nascida numa terra às vezes gélida como esta tem características muito próprias, estranhas às de lugares quentes como a Bahia. Está coberto de razão.