Gente honesta
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
A foto acima foi feita na semana retrasada pela repórter Cleo Guimarães e publicada na coluna “Gente Boa”. Mostra Ana de Hollanda no ônibus da linha 432, que liga o bairro de Vila Isabel ao da Gávea. A cantora embarcou à noite na rua Prudente de Moraes, em Ipanema.
Até oito meses atrás, Ana de Hollanda exercia o cargo de ministra da Cultura, com todas as regalias que essa condição confere.
O flagrante da Cleo atiçou minha memória. Num dos muitos períodos intercalados em que morei em Copacabana, eu pegava todo santo dia o metrô, na então única estação do bairro, rumo à Cinelândia, em cujas cercanias trabalhava.
Volta e meia batia o olho em um senhor espichado e careca que em alguma estação do meio do caminho entrava no vagão. Era Roberto Saturnino Braga, político de larga trajetória, prefeito do Rio de 1986 a 88.
O raciocínio pode não ter muita sofisticação política, mas eu pensava: se um cabra desses anda de metrô, feito um assalariado como eu, é porque deve ser honesto, não enricou na prefeitura.
Era tão honesto que, quando a cidade faliu na gestão de Saturnino, Millôr Fernandes o classificou como “o homem que desmoralizou a honradez”.
Em um tempo pré-Constituição de 1988, os municípios ainda não tinham recursos como agora, e outros obstáculos também prejudicaram o prefeito. Mas ficou evidente que lhe faltava para o Executivo o mesmo talento que sempre exibiu no Legislativo.
Ana de Hollanda também não foi bem-sucedida como gestora, no Ministério da Cultura. Sua administração foi severamente criticada, inclusive por partidários do governo Dilma. Ignoro se com razão.
Ruins ou não de governo, Saturnino e Ana deixam uma lição, no metrô ou no ônibus: é possível ocupar funções públicas que mexem com fortunas e continuar andando de metrô, ônibus ou em carros com padrão igual ao de antes de assumir. Basta querer.